Cá em casa, a cozinha é o coração do lar. Uma espécie de “santuário” da convivência, onde o encontro da família acontece num simples ato de preparar um prato ou ao redor da mesa para partilharmos as refeições e os últimos acontecimentos da vida.
Curiosamente foi neste importante cômodo da casa que deparei-me com a (triste) realidade acerca da quantidade de artigos descartáveis que gerávamos ali, a maioria deles em plástico. Embora realizássemos a seleção para encaminhar os resíduos à reciclagem, comecei a reparar que o recipiente destinado aos plásticos era o que completávamos quase que diariamente. Aquilo fez com que soasse um alarme em mim – Algo não estava bem.
Inspirada pelo testemunho da nossa Eunice no seu livro “Desafio Zero”, onde conta em primeira pessoa a sua experiência, na árdua missão de reduzir o uso do plástico e combater o desperdício alimentar, aceitei o seu convite e coloquei em prática a primeira “missão” para reduzir o uso do plástico doméstico.
1º passo – “Revirar o lixo”
Como em qualquer início de projecto uma das primeiras ações a fazer é um diagnóstico da situação – de onde partimos? Quais são as oportunidades de mudança?
Para responder à estas questões precisamos visitar o nosso caixote de lixo, perceber quais são os principais itens e analisar se realmente eles precisam ser descartados, e se a resposta for sim, será que há alternativas mais duráveis e que desempenham as mesmas funções? Aliás, é precisamente inspirada nesta última pergunta que nasceu este artigo, para partilhar algumas alternativas àqueles itens indispensáveis na cozinha e que duram tão pouco tempo…
Voltando ao “RX” do caixote de lixo, no meu caso por ter os caixotes aparentes, notei logo que a quantidade de plástico crescia diariamente. Mas a nossa Eunice partilha uma dica ainda mais interessante – fotografar todos os resíduos. Uma atividade que pode (facilmente) ser realizada pelas crianças, tornar-se-iam “guardiões” do lixo!
A ideia é investigar e catalogar o lixo gerado, classificando-os por tipos:
Reciclagem – O que pode ser destinado aos diferentes ecopontos?
Orgânico – Que tipo de resíduos biológico (ou molhado) estamos descartando? Será que poderíamos “transformá-los” em adubo com a ajuda da composteira?
O importante, neste primeiro passo, é registar (uma a uma) todas as fontes dos resíduos que estão indo parar no lixo. Perceber quais produtos estão mais constantemente a aparecer no caixote, qual o tipo de embalagem que ele possui e tentar descobrir se há alternativas (menos embaladas) para aquele determinado produto. A monitorização do lixo gerado não precisa ser diária, podemos estabelecer a regularidade, por exemplo semanalmente, quinzenalmente ou até mensalmente. É uma questão de escolha!
Assim que eu coloquei a intenção e a atenção em acompanhar o lixo gerado cá de casa, surpreendi-me com a quantidade de itens de plástico que eu descartava (e ainda descarto – é tudo um processo!), sobretudo na cozinha: frascos de detergentes, recipientes (enormes) de sabão para roupa, garrafões de água, embalagens para quase tudo: guardanapos, vegetais, frutas e legumes. Um verdadeiro “peso” não somente do lixo, como também na minha consciência.
Plástico – um choque de realidade
Provavelmente em algum momento já fomos surpreendido com imagens de montanhas de plásticos nos aterros de lixo ou a boiarem nos oceanos. Talvez ainda não tenhamos consciência do problema, mas no mínimo sabemos que algo corre mal, sobretudo quando descobrimos números alarmantes.
Nos últimos 50 anos a produção de plásticos cresceu de 15 milhões de toneladas (em 1964), para 311 milhões de toneladas (em 2014), e as expectativas apontam para que estes números dupliquem nos próximos 20 anos.
As más notícias não param por aqui, anualmente cerca de 8 milhões de toneladas de plástico vão parar nos oceanos. Estima-se ainda que em 2050 haja mais plástico no mar do que peixes, facto que parece concretizar-se visto que, a nível mundial, apenas 18% do plástico produzido é reciclado.
Mais do que traçarmos o cenário do descarte (desenfreado e indevido) dos plásticos, é importante ressaltarmos que o plástico não é o “vilão” da história. O cerne da problemática é a forma como o consumimos e principalmente a forma como o descartamos.
A crise global de resíduos que assistimos está intimamente ligada ao nosso comportamento consumista (desenfreado) que nos “dita” a urgência de adquirirmos cada vez mais produtos e os descartamos com a mesma facilidade e velocidade.
Mas será que existe alternativas (duráveis e mais ecologicamente responsáveis) que podemos utilizar nas nossas casas, em especial nas nossas cozinhas?
Cozinhas limpas e com poucos itens
Uma das primeiras impressões que tive, logo após o “RX” no meu lixo é que consumia muitos alimentos embalados. As saladas vinhas embrulhadas (em plástico), os tomates em bandejas (de plástico), pepinos, brócolis e cenouras embalados (em plástico), frutas – idem. Plástico – plástico – plástico…E eles todos encontravam-se no lixo reciclado, o que já era positivo, mas poderia melhorar. E tem melhorado, desde que passei a consumir (sempre que possível) a granel e readotei a prática de ir à feira. Afinal, mas vale descascar os alimentos do que desembalá-los!
Além de arriscar-me mais na cozinha preparando as refeições, descobri todo um universo de utensílios úteis, duráveis e “do bem” que antes eu comprava e descartava com muita rapidez.
Há disponível no mercado algumas marcas de objetos e produtos para cozinha (e não só) que estão preocupadas com o impacto que o descarte destes podem gerar, sobretudo no ambiente. Pensando nisto, reunimos alguns dos itens indispensáveis e duráveis para a cozinha que temos disponíveis nas nossas lojas.
Detergente para louça e para roupas – Um dos maiores responsáveis por ocupar espaço no meu lixo eram os frascos (gigantes) de detergentes, que substitui pelo formato a granel e biodegradável. Assim não apenas “salvo” uma embalagem de ir para o lixo como também tenho a certeza que o descarte da água com sabão não poluirá os rios. Temos as duas opções (roupa e louça) na Maria Granel.
Produto multiuso – Para manter a cozinha limpa, utilizamos este produto que serve para (quase) tudo – de chão às bancadas.
Bicarbonato de sódio – Produto versátil pode ajudar-nos na hora da limpeza (e higiene pessoal). Tem propriedades anti-calcário, purificador de ar, regulador do PH e desodorizante.
Esponja – Não podem faltar nas nossas cozinhas, estas são produzidas a partir de garrafas PET recicladas.
Escova de fibra de coco – Produzidas a partir de fibras naturais, são ideias para lavarmos panelas e vegetais.
Escovilhão – Indicado para limpar biberões, frascos e garrafas.
Pano absorvente – Os nossos fiéis companheiros para manter a cozinha limpa, estes são compostos exclusivamente por matérias-primas renováveis.
Panos encerados – Uma ótima alternativa às películas de plástico para embalarmos os alimentos (sem desperdício). Recentemente ensinamos o passo a passo para fazerem o seu próprio pano, reveja aqui .
Pinças para chás – Depois que descobri este item deixei de comprar chás embalados, agora as ervas vêm soltinhas e visíveis dentro dos frascos.
Cápsulas reutilizáveis – Para os amantes de café que sentem pena de usarem as cápsulas convencionais nas máquinas,está pode ser a alternativa ideal. Nas nossas lojas temos disponíveis as cápsulas compatíveis com a Nespresso e a Dolce Gusto.
Mais do que adquirir novos utensílios o convite é olhar (cuidadosamente) para o que já temos e dar asas à nossa criatividade. Certamente aquela velha t-shirt poderá ser muito útil como pano de chão, aquela cafeteira que está encostada num canto pode voltar a perfumar as nossas cozinhas, podemos até resgatar o hábito de usar guardanapos de pano.
Medidas como estas já impactarão (positivamente) na quantidade de lixo gerada em casa, é impressionante e nos enche de orgulho!
E por ai, quais são as dicas para uma cozinha com menos lixo? Partilhe connosco!
Fonte: “Desafio Zero”