2021 marca o início de uma nova década, a Década da Ação no que respeita aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pelas Nações Unidas: “A Década da Ação implica a nossa própria superação enquanto espécie, não apenas para salvar o mundo moderno, mas para salvar o Planeta Terra” (Nações Unidas).

Por isso, inspirados pelo desafio lançado pela National Geographic, partilharemos ao longo deste ano, 12 temas de mudança, 12 áreas de atuação, uma por mês, e muitas sugestões para, juntos, diminuirmos a nossa pegada ecológica global. Esta é uma métrica da Global Footprint Network, uma organização não governamental que criou uma metodologia de contabilidade ambiental para avaliar a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Podes calcular a tua pegada ecológica - o teu impacto individual no planeta -  aqui e perceber qual o teu ponto de partida e as áreas que pretendes eleger como prioritárias na tua "transição ecológica".


12 Dicas - 1 para cada mês do ano


1- Combate o desperdício a partir da tua cozinha

Um relatório [1] de 2011 da Agência das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) calculou que, no mundo, por ano, 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos adequados ao consumo humano se perdem ou desperdiçam, o que representa 1/3 de todos os alimentos produzidos. Simultaneamente, e de forma paradoxal, cerca de 820 milhões de pessoas no mundo vivem em situação crónica de subnutrição ou de insegurança alimentar [2].

Este é, por isso, um problema global com impacto negativo em termos ambientais (emissões de gases com efeito de estufa – se o desperdício alimentar fosse um país, seria o terceiro maior emissor, a seguir ao EUA e à China ; uso do solo (1.4 mil milhões de hectares – quase 1/3 (28%) da área agrícola global ); pegada hídrica; perda de biodiversidade por meio de alterações no habitat; contaminação provocada pelos pesticidas; poluição; desflorestação e alterações climáticas,...), sociais (a FAO vaticinou em 2009 que a produção de alimentos terá de aumentar em 70% para fazer face ao aumento de procura, provocado pelo crescimento da população mundial - mais de 9 mil milhões de habitantes até meados do século XXI), económicos (só na União Europeia, o desperdício alimentar representa cerca de 143 mil milhões de euros em custos em toda a cadeia ) e éticos (deitamos fora comida em boas condições, que poderia alimentar todas as pessoas no planeta que passam fome).

Gestos como planear as refeições, escolher alimentos da estação, aproveitar as sobras de comida, apoiar projetos, iniciativas e descarregar aplicações de combate ao desperdício alimentar (Too Good to Go, Phenix Portugal, Olio,...) fazem a diferença na luta contra este flagelo.

Recentemente, partilhamos um e-book com mais de 100 dicas práticas para começar ou consolidar um caminho de redução de desperdício. Podes descarregá-lo gratuitamente aqui. 


2- Experimenta fazer compostagem 

Segundo o INE – Instituto Nacional de Estatísticas, em 2018, foram recolhidas em Portugal 5,2 milhões de toneladas de lixo, sendo que 40% eram resíduos biodegradáveis. A compostagem surge  aliada no combate ao desperdício e no desvio dos resíduos orgânicos de aterro. 

Fazer compostagem em casa é simples, higiénico e reduz o lixo orgânico, contribuindo para a diminuição das emissões de gases do efeito estufa e minimizando a poluição do solo e das águas subterrâneas.

Descobre como fazer uma composteira aqui. Caso não queiras ou não possas fazer compostagem caseira, informa-te na tua área de residência sobre programas de compostagem comunitária a decorrer, para que possas doar os teus resíduos orgânicos. Podes também descarregar, para o mesmo efeito, a WasteAPP.


3- Rende-te ao "Faça Você Mesmo"


O “Do It Yourself”, ou em português “faça você mesmo”, é uma tendência que tem vindo a crescer. E ainda bem!

Dá asas à criatividade e transforma as tuas peças em artigos exclusivos cheios de estilo (o teu). Podes também utilizar os ingredientes da despensa para fazer receitas caseiras de detergentes e produtos de cosmética. Espreita algumas das nossas sugestões com mais sucesso: produtos de cuidado para o corpo; como reaproveitar a cortiça do desodorizante? e “tinta” a partir da borra de café


4- Reduz o consumo de alimentos de origem animal

De acordo com a Global Footprint Network, a nossa alimentação exige do planeta metade da sua biocapacidade. No caso português, o consumo de alimentos representa 32% da pegada global do país []. Concebe um plano de refeições que permita reduzir a aquisição de produtos de origem animal na alimentação, experimentando novas receitas (com leguminosas, hortícolas, cereais e tubérculos, sementes, frutos gordos, fruta,...).
Aceita o Desafio Vegetariano “Nunca foi tão delicioso reduzir a pegada ecológica”.

5 - Cultiva a tua horta

Se não tens uma horta, podes aproveitar um pedacinho da tua varanda ou do teu terraço ou do parapeito de uma janela e cultivar ervas aromáticas e até alguns legumes. O André Maciel é uma inspiração e pode mostrar-te como fazer essa magia.


6 - Partilha mais 

Procura diminuir o consumo por impulso, inconsciente e desenfreado. Para isso, aposta mais na partilha de objectos - roupas, livros, discos, frascos, material escolar.  E se for necessário comprar, escolhe, sempre que possível, as lojas de segunda mão.






7 - 
Diz não ao plástico de uso único

Mais do que apontar o plástico como “vilão”, acreditamos que a consciencialização para o seu uso adequado e descarte correto é o caminho para minimizar a crise global de resíduos que enfrentamos. 

Há já dezenas de alternativas no mercado: por exemplo, para as garrafas PETs, optar por garrafas reutilizáveis. Em vez de sacos de uso único, preferir reutilizar os que já temos em casa.


8 - Apoia os produtores biológicos

Para além de conservar os recursos naturais durante o processo de produção, os alimentos biológicos protegem a tua saúde bem como a saúde do solo e a biodiversidade. Fica a conhecer os benefícios da agricultura biológica e regenerativa aqui, através desta ilustração linda.


9 - Compra a granel

O granel, além de atuar na redução do desperdício alimentar, pode contribuir para prevenir a geração de resíduos, permitindo aos consumidores escolherem a quantidade de produto de que precisam, recusando embalagens e reutilizando os seus próprios recipientes.
Um estudo publicado no Journal of Cleaner Production em 2017 (Beitzen-Heineke: 2017) analisou o impacto positivo das lojas a granel para as comunidades em que estão inseridas do ponto de vista social, ambiental e económico. Podes saber mais sobre esse artigo científico aqui


10 - Compra local

Optar por produtos locais e nacionais é dar prioridade a circuitos curtos agroalimentares, valorizando a qualidade e contribuindo para o desenvolvimento da economia local, fortalecendo os produtores e instituições para prosperarem. 


11 - Diz SIM à mobilidade sustentável

Sabias que 20% da pegada ecológica de Portugal está relacionada à mobilidade? Podes contribuir para a diminuição deste número, deixando o carro em casa e recorrendo mais vezes aos transportes públicos, à bicicleta, veículos partilhados ou andando mais a pé. 


12- Adota a política dos 5 R’s

A política dos 5 R’s (Bea Johnson) contribui decisivamente para o equilíbrio ambiental e para a redução do desperdício. Sob a sua inspiração, procura recusar aquilo de que não precisas; reduzir aquilo de que precisas; reutilizar aquilo que consumires; reciclar o que não puderes recusar, reduzir ou reutilizar; e compostar tudo o resto.


Vamos a isso? Uma área de mudança por mês.
Vamos juntos! Temos 365 oportunidades para juntos fazermos a diferença!

Feliz ano novo!

Fontes:

[1] FAO. 2011. Global food losses and food waste – Extent, causes and prevention. Rome
[2] HLPE. 2014. Food losses and waste in the context of sustainable food systems. A report by the High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition of the Committee on World Food Security. Rome. p.11. [Online]. [Consultado em novembro 2020]. Disponível em www.fao.org/3/ai3901e.pdf
FAO, 2013. Food wastage footprints. Factsheet. [Online]. [Consultado em dezembro, 2020. disponível em http://www.fao.org/fileadmin/templates/nr/sustainability_pathways/docs/Factsheet_FOODWASTAGE .
FAO. 2015. Food Wastage Footprint & Climate Change. Rome. p.1. [Online]. [Consultado em dezembro, 2020]. Disponível em www.fao.org/3/a-bb144e.pdf).
FUSIONS 2016. ‘Estimates of European Food Waste Levels.’ [Online]. [Consultado em novembro de 2020]. Disponível em http://www.eufusions.org/phocadownload/Publications/Estimates%20of%20European%20food%20waste%20levels. pdf