As "Tiny house" são muito mais que um movimento arquitetónico; estão a acolher o sonho daqueles que almejam uma vida mais simples e minimalista.
Tendo surgido nos Estados Unidos na década de 90 e ganhando força após a crise de 2008, as "tiny houses" utilizam soluções criativas e ambientalmente responsáveis para garantir que a experiência seja confortável, segura e sustentável.
O minimalismo e a consciência ambiental andam de mãos dadas com o movimento "Tiny Houses". Muitos adeptos iniciaram a sua jornada livrando-se de móveis e objetos supérfluos, ou optando pelos "armários-cápsula”, até ao momento em que passam a reduzir, inclusive, o tamanho da própria casa, optando por aquilo que lhes era verdadeiramente essencial.
Quais são as características de uma Tiny House?
A principal característica é a sua dimensão reduzida, que não costuma passar os 40 m². Com o espaço limitado, o desafio é construir um ambiente que seja confortável e que aproveite cada milímetro do espaço.
Imagens: Madeiguinho
As casas de tamanho reduzido estão a conquistar vários corações pelo mundo inteiro e também em Portugal há cada vez mais pessoas a escolher experimentar uma vida mais simples em cerca de 40 m². Convidámos duas famílias para partilharem as suas histórias, valores e os ideais que impulsionaram esta experiência.
"Tiny Houses" em Portugal
Ó da Joana é um projeto comandado pela arquiteta Joana Laranjeira que desenvolve design de interiores através dos princípios do “Faça Você Mesmo” (DIY) que acolheu, mais recentemente, e evolução do projeto familiar da construção de uma "tiny house".
Foi durante a pandemia que Joana, António e o pequenino Vicente viram a sua rotina de viagens sofrer uma brusca paragem e, assim, surgiu a ideia de construírem a sua própria casa de férias móvel. Ao longo dos anos, o casal vem selecionando o que de facto é importante, o que querem ou não manter nas suas vidas e, nesse sentido, encontraram neste sonho o terreno fértil para a concretização de terem apenas aquilo de que verdadeiramente precisam.
“Para já a Tiny é uma solução de férias, para sairmos deste ambiente, podendo levar a iniciativa Ó da Joana a mais lugares do país, mas quem sabe os ensinamentos desta experiência possam estar mais presentes nas nossas vidas”. diz, Joana.
O casal partilhou na página Ó da Joana os primeiros passos do novo projeto da família, sem imaginar o sucesso que o tema teria nas redes. “No dia em que os nossos seguidores duplicaram, a Joana à noite comentou - Estamos a conseguir atingir o nosso objetivo, que era criar uma página de forma que as pessoas conseguissem chegar ao design, ao conforto e a decoração da casa”, relembra António.
O casal afirma ainda que estão a ser procurados para desenvolverem projetos de "tiny houses" para outras famílias.
Primeiro vídeo da série
A "Tiny House" da Joana, António e Vicente
A "tiny house" da família está a ser construída sobre um atrelado de porta-mercadorias, com a possibilidade de ser extraída desta superfície, permanecendo temporariamente num terreno. Legalmente é possível que seja desta maneira, porque, neste caso, a casa é uma mercadoria, podendo ser transportada, pois o peso da construção e as dimensões da casa respeitam os limites suportados pela base, além de não ultrapassarem os estipulados por lei, que são de 4 metros de altura e 2 metros de largura.
No caso de a casa estar “estacionada” num terreno, o casal afirma que as leis vigentes são respeitadas, por ser removível e possuir reservatórios próprios para água e esgoto não prejudica o solo . “Basicamente a casa será uma espécie de cápsula que terá água, esgoto e eletricidade de forma autónoma, sendo 100% alimentada por luz solar”, comenta Joana.
Outra vantagem ambiental é o facto de a casa não permanecer no solo, podendo manter-se na própria estrutura do atrelado ou, no caso de ser removida, ficar suspensa numa superfície de blocos, a 30 centímetros do chão. “A casa nunca ficará no chão, o solo permanecerá o com a sua livre drenagem. Temos uma espécie de macacos (ferramenta utilizada na troca de pneus) que auxiliam na suspensão da casa e a sua permanência nos blocos”, explica ela.
Embora ainda não haja uma data para a primeira viagem da família, Joana e António partilham o passo a passo da construção da tiny house por meio de uma série de vídeos no canal Ó da Joana. “Esperamos em breve experimentarmos a nossa Tiny, sabemos que tudo será aprendizagem, vamos sair e perceber o que está bem, testar as escolhas que fizemos e se preciso for, substituir o que não correr tão bem. É provável que a nossa primeira viagem seja para o jardim do vizinho”, brinca Joana.
Dicas para a construção da própria "tiny house"
Embora a "tiny house" da família da Laranjeira ainda não esteja pronta, o casal partilha dicas preciosas para aqueles que pretendem, assim como eles, construírem a sua própria tiny house:
- Como ainda não há uma legislação vigente para as "tiny houses" em Portugal, antes de iniciares o planeamento, consulta a legislação local;
- Informa-se sobre os tipos de materiais que atendem às tuas necessidades. Faz um estudo das possibilidades de estruturas, revestimentos e peças que garantam a segurança, durabilidade e economia financeira;
- Privilegia, sempre que possível, o mercado nacional;
- Cada milímetro de espaço é precioso. Avalia o que de facto é importante para a tua família.
Neste momento o casal finalizou a estrutura da última parede lateral, este passo está registado no terceiro episódio da série.
Terceiro vídeo da série
A "tiny house" da Maria e da Noá
A professora de yoga Maria Couto prepara-se para construir a sua "tiny house" móvel, o empreendimento será a base da sua vida pessoal e também do projeto Mãeguru, que desenvolve, há cerca de um ano e meio, ações envolvendo uma alimentação saudável, meditação, aulas de yoga e retiros.
“O minimalismo entrou na minha vida há cerca de 7 anos e mostrou-me que tudo o que nos é inconscientemente ensinado é uma enorme mentira. Durante anos, busquei a felicidade através do consumo desequilibrado. Sempre que mudava de casa eram necessários três carros para levar as coleções infindáveis de sapatos, bolsas e roupas ainda com etiquetas.” diz Maria.
Aos 20 anos, Maria atende ao chamado do coração e viaja para o Brasil sozinha, ultrapassando vários desafios, desde questões profissionais e familiares, até ao facto de ter que levar apenas o necessário numa única mala. Ficou por lá durante dois anos e no seu retorno a Portugal iniciou o processo de desapego. “Senti vontade de me desfazer de tudo, reduzi o essencial a uma mala. O nosso valor não depende daquilo que possuímos. Tornei-me muito mais realizada quando me libertei de todo o peso que fui acumulando ano após ano, na crença inconsciente de que as coisas que possuía me davam valor e me representavam”, conta Maria.
Após o nascimento da sua filha, Noá, o desejo de oferecer uma vida ainda mais simples e verdadeira fez com que Maria continuasse empenhada no seu novo projeto de vida. “A Noá nasceu e começou literalmente o nomadismo, de um lado para o outro durante três anos de norte a sul do país, Açores e Índia. A cada viagem ficávamos cada vez mais leves de bagagem física e mais preenchidas de bagagem de experiências”, relembra ela.
Fotos: Arquivo pessoal
Embora as viagens ainda estejam na essência da família, Maria e a pequena Noá (5 anos), pretendem agora enraizar. “Após dois meses na índia, senti que precisávamos de uma base. Inspirada por um casal de amigos alemães que construíram a sua casa em dois contentores, aflorou o sonho de ter uma casa móvel. A partir daí, foram surgindo novas informações e o universo das "tiny houses" revelou-se para mim. Tudo aquilo em que que eu acredito estará conjugado na pequenina casa”, diz ela.
Maria planeia financeiramente a construção da sua primeira casa. Para isso, está a desenvolver um produto que servirá de alavanca para a realização deste sonho. “É algo que está a ser criado com muita intenção e amor, que tenho a certeza que vai acrescentar muito valor na vida das famílias que o receberem. Todo o lucro dessas vendas irá reverter para a construção deste sonho!”, explica.
Foto: Arquivo pessoal
Durante a nossa conversa inspiradora, a Maria adiantou uma informação sobre o produto que será lançado entre os meses de junho e julho. “Posso partilhar, em primeira mão, que se trata de um jogo. E está a ficar lindo! Todos poderão fazer parte deste nosso sonho”, revela Maria.
Todo o lucro obtido a partir das vendas do jogo serão investidos na construção da "tiny house", que, embora ainda não esteja projetada no papel, será móvel, irá captar as águas da chuva e terá também uma casa de banho seca, um método de saneamento que não necessita da água para a descarga. Os resíduos humanos são tratados por degradação e desidratação e o resultado é um produto final valioso para o solo.
A futura "tiny house" da Maria será construída por uma empresa nacional, a Madei Guincho.
Adorámos fazer este artigo e estar à conversa com estas duas famílias; aprendemos muito com estes testemunhos na primeira pessoa - sem dúvida, um apelo a refletirmos sobre uma vida com menos coisas e mais sentido. Porque, também aqui, menos é definitivamente mais.
Até já!