Durante os dias 19 e 25 abril, 92 países promoveram ações e fomentaram reflexões sobre as transformações necessárias e urgentes na indústria da moda. Consumidores, marcas, produtores, universidades e jornalistas lutaram juntos por uma moda mais consciente que visa proteger vidas e ecossistemas. Esta é a missão do movimento Fashion Revolution Week, fundado após o desastre do Rana Plaza em 2013, que retirou a vida a 1138 pessoas e feriu centenas de pessoas, na sua maioria, mulheres.
Em Portugal, pelo sétimo ano consecutivo, fabricantes, designers e marcas nacionais abriram as portas dos seus negócios para mostrarem quem e como faz as nossas roupas e também para partilharem os principais desafios inerentes à indústria têxtil.
Para sabermos mais sobre a edição 2021 do Fashion Revolution Week, convidámos novamente a Salomé Areias, fundadora deste movimento em Portugal, para nos contar sobre as principais reflexões levantadas durante os eventos, bem como os próximos passos do movimento.
Balanço Fashion Revolution Portugal 2021
A edição deste ano centrou-se, entre outros temas, na reflexão sobre o poder do consumidor na mudança política e sistémica necessária para um mundo mais justo para todos. Para isso, a Fashion Revolution Portugal garantiu que a transparência, palavra-chave do movimento, estivesse presente em todos os eventos promovidos.
“É extremamente importante garantirmos um espaço de reflexão seguro e isento de julgamentos. Anualmente esforçamo-nos para que as verdades façam parte do processo, sejam elas “boas” ou “más”. Acreditamos que elas empoderam as boas práticas”, explica Salomé.
Pela primeira vez, a organização abordou temáticas que envolvem aspetos políticos e económicos da indústria da moda, bem como apresentou as principais estratégias de marketing utilizadas por grandes marcas para promover uma imagem (quase sempre injustificada) de preocupação ambiental, o chamado Greenwashing. “Neste ano, demos um grande passo ao ampliarmos as conversas para além da sustentabilidade. Esforçamo-nos para difundir e ampliar temas pouco abordados, como a política e a economia que permeiam a indústria da moda”, diz Salomé.
Embora a organização esteja a trabalhar no relatório de impacto, já se sabe que ultrapassaram as expectativas quanto à participação, interação e envolvimento das pessoas. “Não imaginávamos que teríamos tanta interação das pessoas e das marcas nacionais. As páginas do Fashion Revolution Portugal receberam mais de mil novos seguidores, o que confirma o interesse da comunidade na temática. Outra surpresa foi a quantidade de marcas que participaram através de campanhas próprias, criação de conteúdos e vídeos”, celebra ela.
Durante a nossa conversa com a Salomé, ficou claro que o balanço da edição Fashion Revolution 2021 ultrapassou os números tangíveis, as expectativas e os aspectos planeados atempadamente. “Cada ano que promovemos o evento vibramos por saber sobre as transformações que estão a ocorrer. Por exemplo, este ano soubemos que alguns pequenos empreendimentos reconhecem que o salário mínimo nacional está longe de ser digno e pagam valores superiores aos seus funcionários”, conta Salomé.
Outros exemplos de boas práticas adotadas por empresas nacionais puderam ser conhecidos durante as lives dedicadas a marcas nacionais, como o episódio da fundadora da empresa familiar António - Handmade Story que, na altura da pandemia, preferiu despedir-se a despedir algum dos seus funcionários. “Esse caso para nós só demonstra o cuidado e a preocupação em manter-se o coração da produção”, comenta ela.
Outros fatos a celebrar
Ao todo foram promovidos em Portugal 12 eventos on-line durante a semana dedicada ao Fashion Revolution:
- 5 Webinars com os temas: "Comunicar de forma transparente", "Gerir o desperdício têxtil", " Vestir para o ativismo", "Distinguir o Greenwashing" e "Repensar a relação com a roupa".
- 5 Open Factory - 10 marcas nacionais aceitaram o desafio e abriram as suas portas, explicando como tudo funciona por dentro: Libelinha Design, Damoiseaux, R-Coat, Skizo, Lobra, Inguz, Ablesia, Elementum, António - Handmade Story e Barrio Santo. Num dos Open Factory, a organização do evento surpreendeu-se com a presença de uma das representantes da Tetribérica, marca nacional que produz e exporta para toda a Europa cerca de 250.000 peças por mês. A surpresa e a disponibilidade da marca renderam uma conversa e partilha desta "gigante" têxtil.
- 2 círculos de partilha - Dirigidas tanto a profissionais do setor da moda como aos consumidores, os círculos foram conduzidos pela Cândida Rato, especialista no método Way of Council.
Além dos eventos programados, a Fashion Revolution Portugal celebra ainda o aumento da sua equipa, passando de oito integrantes para 14, o que favorece a pluralidade e o compromisso das pessoas em contribuírem com as transformações necessárias na indústria da moda. “São tantas vitórias a comemorar, uma delas é sem dúvida as pessoas que juntaram-se a nós para manter a faísca do movimento acesa. Além de ampliarmos a equipa, recebemos dezenas de novos revolucionários (como são chamados carinhosamente os voluntários), que, após passarem por formações, produziram conteúdos para a campanha”, diz Salomé.
Embora o evento ocorra uma vez por ano, o trabalho para transformar toda uma indústria é árduo, contínuo e envolve-nos a todos!
Se perdeste algum dos eventos ou queres assistir novamente, estão todos disponíveis aqui.
Até já!