Já alguma vez sentiste que tinhas um "armário cheio e nada para vestir"? A nossa Eunice conta-nos sobre essa sensação recorrente que tinha e mostra-nos como ter um armário mais funcional e sustentável Esta é a sua experiência de destralhar e otimizar o roupeiro, sem deixar de lado a sua essência.
Imagem: Pinterest
“Armário cheio de nada para vestir!”
Uma frase familiar para muit@s de nós, foi o ponto de partida para a nossa Eunice, que não esconde o seu passado consumista. “Há menos de dez anos, eu era extremamente consumista. Fascinada por moda, acompanhava as tendências e comprava muito. Fui acumulando até que não coube mais roupa no meu armário. Ironicamente, sentia que vestia sempre o mesmo e realmente apenas usava uma pequena parte”, conta-nos ela.
O que mudou?
O nascimento da Maria Granel possibilitou à nossa fundadora (e a todas nós que fazemos parte da equipa) um despertar de consciência em relação às escolhas que, até ao momento, tinha. “Lentamente, comecei a refletir e a tomar consciência das opções que fazia também ao nível da roupa. Se o fazia com a minha alimentação e com outros produtos que consumia, transformar a forma como eu consumia a moda foi uma extensão natural”, comenta.
Embora a nossa Eunice ainda tenha o fascínio pela moda, o que mudou verdadeiramente foi a forma como ela vive essa paixão, não mais com compulsão ou impulso. “Simplesmente, deixei de comprar. Deixei de sentir o apelo e a urgência. E o momento mais poderoso foi quando decidi que passaria a ser eu a vestir as roupas, em vez de serem elas a vestirem-me".
Na prática - Como ter um armário mais funcional e sustentável?
Felizmente, há inúmeros caminhos que nos conduzem a uma vida “bem vestida” e mais responsável: lojas de segunda mão, plataformas de vendas de artigos usados, marcas que produzem peças ecológicas e os chamados armários cápsula são apenas alguns desses exemplos. Não há um caminho certo ou errado, existe aquele que cabe nas nossas necessidades e se adequa à nossa realidade.
No caso da nossa Eunice, três das suas incontáveis peças contam como essa transformAção começou - “Dei por mim a reservar duas blusas de boa qualidade e de duas cores que sentia que me ficavam bem para apresentações e momentos mais formais. Fiz o mesmo com o vestido mais bonito que tinha — passou a ser o vestido dos casamentos e celebrações. Nos três casos, são peças que me fazem sentir bonita, confiante e que exprimem da melhor forma a minha personalidade e a minha forma de estar”, explica.
Imagens: Arquivo pessoal
Nas fotografias, a nossa Eunice está a usar: Carteira da sua sogra; t-shirt da sua mãe; calças compradas em segunda mão e os sapatos com 20 anos de uso.
Radiografia do roupeiro
À semelhança do que utilizamos quando queremos identificar as divisórias da casa que mais produzem lixo, o método da radiografia pode também ser aplicada nos nossos roupeiros.
“Fiz uma espécie de radiografia no meu roupeiro, em função do meu estilo e do que eu queria que ele comunicasse sobre mim. Comecei por retirar aquilo que já não me servia ou que nunca usava. A partir daí, organizei dois montes: aquilo que estava em boas condições para ser trocado e/ou vendido (OLX, redes sociais, mercado de segunda mão, troca com amiga) e aquilo que estava em condições para ser doado. Quanto ao resto (aquilo que já não estava em condições, ou porque estava rasgado, ou roto, ou sapatos sem capas…), levei à costureira e ao sapateiro”, relembra a nossa Eunice.
Só com essa operação, ela reduziu a um terço o tamanho do seu roupeiro e afirma que ficou mais simples e funcional a sua vida. “Passou a ser muito mais rápida a escolha da roupa para cada dia. Treino muito mais a criatividade para conseguir conjugar as partes. Apesar de serem poucas peças, a verdade é que, conjugadas com outras e acessórios diferentes, dão a impressão de um guarda-roupa muito maior do que aquilo que efetivamente é”.
Foto - Gustavo Figueiredo - Arquivo pessoal
Ao longo do processo de transformAção do seu roupeiro, a nossa Eunice contou com a ajuda de especialistas, uma delas foi a da Sofia Dezoito, consultora de imagem e fundadora do Healthy Project, iniciativa que auxilia no posicionamento da identidade visual através de um armário mais funcional e de escolhas mais assertivas, sem que precisemos de perder a nossa essência. “Um armário mais funcional não tem de ser triste, minimalista e monocromático. Precisa que funcione e transpareça a nossa imagem e essência. A minha missão é fazer com que te apaixones de novo por todas as tuas peças, de modo a que as possas usar com confiança no teu dia a dia ou em qualquer ocasião”, explica Sofia.
Descobre mais sobre este projeto!
E se (achar) que é necessário comprar novas peças?
O processo de diminuir e otimizar o nosso roupeiro é um caminho, uma escolha para incluir na nossa vida atitudes mais conscientes e responsáveis, mas sem fundamentalismos. Por isso, se achar que precisa comprar algo novo, a nossa Eunice dá 9 perguntas que podem orientar o consumo (ou não):
1- Gosto mesmo desta peça?
2- Vou usá-la no mínimo umas 30 vezes?
3- Preciso mesmo dela ou tenho já algo parecido ou igual?
4- Consigo conjugá-la com outras peças?
5- Tem qualidade e está bem produzida (ver costuras, acabamentos, resistência, durabilidade, indicações sobre manutenção)?
6- De que materiais é feita? São fibras naturais ou sintéticas?
7- Quem a produziu e onde e em que condições?
8- Sei quem estou a apoiar com esta compra? Está alinhado com os meus valores?
9- O que lhe posso fazer no final da vida?
Que possamos dar o devido valor às nossas roupas, percebendo que elas são apenas um veículo, um instrumento que traduz ao mundo a nossa essência, a expressão do que somos.
Outras dicas e reflexões sobre esse e outros processos de transformAções, disponíveis no livro Desafio Zero.