O sistema alimentar global atual apresenta vários problemas, não sendo sustentável a longo prazo.

As escolhas alimentares do consumidor desempenham um papel preponderante na orientação da produção alimentar no sentido da sustentabilidade, passando pela seleção de certos tipos de produtos de acordo com a sua origem geográfica, processo de produção, e criando valor especialmente para os pequenos produtores. [1]

De facto, as tendências de consumo alimentar têm vindo a ser reconhecidas como um dos principais fatores com influência nas pressões ambientais, pelo que se torna importante a adoção de dietas mais sustentáveis. [1] Ora, a dieta mediterrânica é, de acordo com a evidência científica, uma dieta sustentável e saudável. [2]

 

Conhece a Dieta Mediterrânica?

A dieta mediterrânica – reconhecida pela UNESCO como património imaterial da humanidade - é identificada como sendo um dos padrões alimentares mais saudáveis. Fundamentalmente, este conceito foi concebido por forma a refletir o padrão alimentar prevalente, na década de 1960, entre os habitantes da bacia do mediterrâneo, predominantemente, Creta, grande parte das restantes regiões da Grécia e sul de Itália. [3,4]

Deve ser enfatizado que não existe uma única dieta mediterrânica, mas sim um número de variações adaptadas à cultura dos vários países. [1] O termo "dieta mediterrânica" implica a existência de algumas características dietéticas comuns nos países mediterrânicos nomeadamente:

- uma dieta sustentada maioritariamente por alimentos de origem vegetal, caracterizando-se pelo elevado consumo, em quantidade e frequência, de frutas e vegetais, cereais (preferencialmente integrais), leguminosas e frutos oleaginosos, azeite, quantidades moderadas de peixe, ovos e lacticínios, pequenas quantidades de carne e vinho tinto em moderação e às refeições.[1]

- sazonalidade, biodiversidade, frugalidade e uso de produtos tradicionais e locais, são também elementos importantes deste padrão alimentar.[5]

Além disso, a dieta mediterrânica pressupõe ainda elementos qualitativos, culturais e de estilo de vida, tais como a convivência às refeições, atividades culinárias, atividade física e descanso adequado. [5]

Em comparação com a dieta ocidental, que se caracteriza pelo elevado consumo de carne, gordura saturada e açúcar, a dieta mediterrânica apresenta um baixo impacto ambiental, é mais saudável e sustentável social e culturalmente. [6]

 

Características que promovem a sustentabilidade

Dieta maioritariamente de origem vegetal

Em muitos estudos, este tipo de dieta tem sido apontado como tendo um reduzido impacto ambiental, maioritariamente devido a um maior consumo de produtos de origem vegetal em comparação com padrões alimentares como o ocidental. [1]

De facto, tem sido demonstrado que a redução do consumo de produtos de origem animal, em especial a carne, aumentando o consumo de alimentos de origem vegetal, terá um grande impacto no gasto de recursos naturais e emissões de gases com efeito de estufa. [7,8]

Um estudo sobre o impacto ambiental dos diversos géneros alimentícios demonstrou que os alimentos caracteristicamente consumidos numa dieta mediterrânica apresentam baixo impacto ambiental. [7]

 

 
 

Sazonalidade e Produção Local

A escolha de produtos locais permite a redução das necessidades de transporte, refrigeração e embalamento e, consequentemente, as emissões associadas, apoiando simultaneamente os pequenos produtores, em especial, quando comprando em mercados tradicionais e municipais. [8,9]

Também a sazonalidade deverá ser tida em conta. Se pensarmos que para o cultivo de uma alface no inverno, este terá que ser feito em estufas com características específicas, despendendo energia, ao passo que se a comprarmos em época, o dispêndio de energia para a sua produção vai ser menor, concluímos pela importância de consumir os produtos em época.[2]


 

 

Frugalidade

A dieta mediterrânica pressupõe também o princípio da frugalidade (baixa ingestão calórica), o que contribuirá também para a sustentabilidade dos sistemas alimentares.[10]

Este princípio expressa o cuidado com a preparação das refeições, a moderação nas porções e a redução do desperdício e está ligado ao valor social, cultural e económico da alimentação nos países mediterrânicos. [10]

Adesão à Dieta Mediterrânica

Apesar dos benefícios bem documentados deste padrão alimentar tanto para a saúde como para o ambiente, tem vindo a verificar-se um declínio da adesão ao mesmo na zona do Mediterrâneo. [9]

De facto, verifica-se uma transição nutricional nesta zona, em que problemas de desnutrição coexistem com o excesso de peso e obesidade. Verifica-se uma aproximação à dieta de estilo ocidental, impulsionada pela globalização da produção e consumo alimentar. [9]

Portugal é referido como um país de características mediterrânicas, não só pela sua história, pelas suas práticas sociais e culturais, mas também pelos seus hábitos alimentares. Semelhantemente à maioria da Europa mediterrânica, também Portugal tem verificado a transição nutricional referida. [11]

 

Num estudo que avaliou a adesão à dieta mediterrânica em Portugal, verificou-se que: [12]

- 50% dos inquiridos referem já ter ouvido falar e saber o que é a dieta mediterrânica;

- apenas 26% da população portuguesa apresenta elevada adesão à dieta mediterrânica (a maioria dos portugueses não segue, portanto, este padrão).

Quando se analisam os alimentos cuja percentagem de inadequação do consumo (consumo em quantidade inferior às recomendações) é superior, podem ser destacados as leguminosas, os hortícolas, a fruta e os frutos secos oleaginosos.

Ainda assim, a adesão ao padrão alimentar mediterrânico cresceu 15% desde 2016.

Como adotar este padrão alimentar?

Por forma a facilitar a adoção desta dieta, existem ferramentas como a Pirâmide da Dieta Mediterrânica ou, a nível nacional, a Roda da Alimentação Mediterrânica.

Figura 1 - Roda da Alimentação Mediterrânica [13]

Ambas ajudam a percecionar o que será na prática a adoção desta dieta, abordando, por exemplo, as porções recomendadas dos alimentos pertencentes aos vários grupos alimentares e incluindo recomendações relativas a aspetos como a sazonalidade e o convívio às refeições.

No próximo artigo, abordaremos a inclusão de leguminosas na alimentação, como parte de uma dieta de estilo mediterrânico, sendo estas um dos alimentos que se destaca com um consumo inadequado a nível nacional.


Fontes:

1 - Dernini S, Berry EM. Mediterranean Diet: From a Healthy Diet to a Sustainable Dietary Pattern. Front Nutr [Internet]. 2015 May 7 [cited 2021 Jan 17];2. Available from: /pmc/articles/PMC4518218/?report=abstract
2 - Berry EM. Sustainable food systems and the mediterranean diet. Nutrients [Internet]. 2019 Sep 1 [cited 2021 Jan 17];11(9). Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31527411/
3 - Castro-Quezada I, Román-Viñas B, Serra-Majem L. The mediterranean diet and nutritional adequacy: A review [Internet]. Vol. 6, Nutrients. MDPI AG; 2014 [cited 2020 Sep 14]. p. 231–48. Available from: /pmc/articles/PMC3916858/?report=abstract
4 - Trichopoulou A, Martínez-González MA, Tong TYN, Forouhi NG, Khandelwal S, Prabhakaran D, et al. Definitions and potential health benefits of the Mediterranean diet: Views from experts around the world. BMC Med [Internet]. 2014 Jul 24 [cited 2020 Sep 14];12(1):112. Available from: http://bmcmedicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/1741-7015-12-112
5 - Bach-Faig A, Berry EM, Lairon D, Reguant J, Trichopoulou A, Dernini S, et al. Mediterranean diet pyramid today. Science and cultural updates. Public Health Nutr [Internet]. 2011 [cited 2020 Sep 14];14(12ª):2274–84. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22166184/
6 - Truzzi ML, Puviani MB, Tripodi A, Toni S, Farinetti A, Nasi M, et al. Mediterranean Diet as a model of sustainable, resilient and healthy diet. Prog Nutr [Internet]. 2020 Jun 12 [cited 2021 Jan 17];22(2):0–00. Available from: https://www.mattioli1885journals.com/index.php/progressinnutrition/article/view/8632
7 - Germani A, Vitiello V, Giusti AM, Pinto A, Donini LM, Del Balzo V. Environmental and economic sustainability of the Mediterranean diet. Int J Food Sci Nutr [Internet]. 2014 Dec 1 [cited 2021 Jan 17];65(8):1008–12. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25088933/
8 - Lopes R. THE MEDITERRANEAN DIET AS A SUSTAINABLE FOOD SYSTEM [Internet]. Vol. 4, Journal of Spatial and Organizational Dynamics. 2016 Dec [cited 2021 Jan 17]. Available from: https://www.jsod-cieo.net/journal/index.php/jsod/article/view/77
9 - CIHEAM/FAO. 2015. Mediterranean food consumption patterns: diet, environment, society, economy and health. A White Paper Priority 5 of Feeding Knowledge Programme, Expo Milan 2015. CIHEAM-IAMB, Bari/FAO, Rome.
10 - Dernini S, Berry EM, Serra-Majem L, La Vecchia C, Capone R, Medina FX, et al. Med Diet 4.0: The Mediterranean diet with four sustainable benefits [Internet]. Vol. 20, Public Health Nutrition. Cambridge University Press; 2017 [cited 2021 Jan 17]. p. 1322–30. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28003037/
11 - Barros V, Carrageta M, Graça P, Queiróz J, Sarmento M. Dieta Mediterrânica - Um património civilizacional partilhado [Internet]. 2013 [cited 2020 Sep 14]. Available from: https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/10480
12 - DGS. ESTUDO DE ADESÃO AO ESTUDO DE ADESÃO AO PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO. 2020. [Internet]. [cited 2021 Jan 17]. Available from: www.dgs.pt
13 - A RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA • Nutrimento [Internet]. [cited 2021 Jan 17]. Available from: https://nutrimento.pt/cartazes/a-roda-da-alimentacao-mediterranica/