Neste artigo iremos abordar o tema da poupança e sustentabilidade alimentares. De facto, como iremos ver, uma pode estar associada à outra, especialmente, considerando os diversos aspetos que têm vindo a ser desenvolvidos, associados à prática de uma alimentação mais sustentável.
Numa altura em que muitas famílias têm de estar confinadas em casa, havendo possivelmente o aumento de algumas despesas e a possibilidade de uma situação económica mais complicada futuramente, aumenta também a preocupação com as poupanças. [1,2]
Na verdade, segundo uma análise do Banco Central Europeu, divulgada em setembro, a propensão das famílias para a poupança atingiu níveis inauditos no primeiro e segundo trimestre de 2020. [2] As despesas com a alimentação constituem a fatia mais flexível do orçamento familiar. [3]
A prática de uma alimentação saudável e sustentável pode, de facto, aliar-se a uma maior poupança, quando em comparação com uma dieta típida de estilo ocidental. Esta caracteriza-se pelo domínio da conveniência e dos alimentos ultraprocessados, incluindo elevados consumos de grãos refinados, carnes vermehas e processadas e açúcar, assim como baixo consumo de frutas e hortícolas. Desta forma, para além de não se alinhar com os princípios de uma alimentação sustentável, pode também ser prejudicial para a saúde. [4]
Por outro lado, a prática de uma dieta de estilo mediterrânico, considerando diversos aspetos que têm vindo a ser abordados nesta série de artigos, pode contribuir para uma maior poupança, adicionalmente aos benefícios ambientais e para a saúde já apontados. Assim, são em seguida apresentados alguns princípios aliando a poupança e sustentabilidade alimentar.
Princípios de uma Alimentação Sustentável que potenciam a Poupança
- Dieta Mediterrânica: Esta é, de acordo com a evidência científica, uma dieta sustentável e saudável. [5] Comer a baixo custo, utilizando os alimentos produzidos localmente e fazer do pouco muito, preparando refeições saborosas e saudáveis para toda a família é algo que se faz na bacia do Mediterrâneo desde há muitas gerações. A cozinha mediterrânica caracteriza-se por uma cozinha simples onde predominam as sopas, os ensopados, as caldeiradas, entre outros pratos de panela, reservando para os dias de festa uma culinária mais rica e elaborada assim como iguarias mais caras e também mais ricas em açúcar, gordura e calorias. [3]
- Reduzir o Consumo de Carne: Optar por realizar algumas refeições de base vegetal, nomeadamente recorrendo ao consumo de leguminosas, que apresentam um custo mais reduzido e uma menor pegada ecológica.
- Consumo de Sopa: . A confeção de uma sopa de legumes, pode ser uma oportunidade para aproveitamento de partes dos legumes normalmente consideradas menos nobres, como é o caso dos talos e alguns tipos de folhas, bem como para o aproveitamento de sobras, reduzindo o desperdício alimentar e contribuindo assim também para a poupança. A ingestão de sopa de legumes,no início da refeição, contribui para que não se verifique um excesso na ingestão de alimentos no prato principal e para o aumento da ingestão de hortícolas. Trata-se de um alimento versátil, podendo constituir um prato principal, quando enriquecida (podendo neste aspeto contribuir também para a poupança).
- Granel: Comprar a granel poderá também ser benéfico neste sentido, uma vez que é adquirida apenas a quantidade de alimentos pretendida, evitando também que estes venham a ser desperdiçados, o que representaria também um desperdício de dinheiro.
- Planeamento, Acondicionamento e Aproveitamento: Planear as compras e refeições, bem como, acondicionar os alimentos apropriadamente contribui para a redução do desperdício alimentar (e consequentemente também monetário). Da mesma forma, aproveitar as sobras e os alimentos integralmente, permite a realização de um maior número de refeições, reduzindo o desperdício e custos associados.
- Confeção Eficiente: Confecionar os alimentos de forma a potenciar a poupança de água e energia, para além dos claros benefícios a nível económico, contribuir também para uma maior sustentabilidade, reduzindo inclusivamente as emissões de gases com efeito de estufa que estariam associadas à produção de energia utilizada desnecessáriamente. [6] Pode também ser benéfico a nível nutricional, recorrendo a técnicas - como cozinhar a vapor - que permitem manter um valor nutricional mais interessante. [7]
Reduzir consumo de "Lixo Alimentar" e Alimentos Ultraprocessados: Referimo-nos a "Lixo ALimentar", quanto a produtos alimentares que não possuem grande valor nutricional e que funcionam apenas como uma fonte de calorias, às quais chamamos de calorias vazias - são exemplos: refrigerantes, batatas fritas, vários produtos de pastelaris - pelo que, a sua compra e consumo, representa um gasto de dinheiro desnecessário que não contribui para uma boa nutrição podendo, pelo contrário, ser prejudicial, devendo ser reservados para ocasiões especiais. [3] Da mesma forma, os alimentos ultraprocessados, não potenciam a poupança e sustentabilidade alimentar. Este tipo de produtos pode ser prejudicial tanto a nível ambiental como para a saúde. Adicionalmente uma refeição pré-preparada (incluida neste grupo de produtos), poderá de facto ter um custo mais elevado.
Um Dia de Alimentação Saudável e Sustentável vs Alimentação Estilo Ocidental incluindo Ultraprocessados*
Fazendo uma comparação, podemos verificar que uma alimentação mais sustentável e saudável pode também ser mais barata (variando consoante os alimentos selecionados, o planeamento das refeições e a gestão da própria alimentação). Adicionalmente, devemos considerar os fatores anteriormente mencionados e que não ficam tão claros através desta comparação - como as técnicas para uma confeção mais eficiente e para redução do desperdício alimentar - que acrescem ainda mais à poupança.
De notar ainda que os alimentos incluídos na segunda dieta (saudável e sustentável), apresentam, de uma forma geral, melhor valor nutricional, sendo este um benefício acrecido.
* Os valores apresentados foram calculados por dose e são uma média, servindo apenas para comparação.
Concluíndo, a realização de uma alimentação mais sustentável pode trazer benefícios tanto económicos como ambientais e para a saúde.
Fontes:
1 - Como poupar nos consumos de água e energia [Internet]. [cited 2021 Feb 21]. Available from: https://www.deco.proteste.pt/familia-consumo/orcamento-familiar/dicas/como-poupar-nos-consumos-de-agua-e-energia
2 - Carroll C, Crawley E, Slacalek J, White M. How has the U.S. coronavirus aid package affected household spending? Res Bull [Internet]. 2020 [cited 2021 Mar 1];75. Available from: https://www.ecb.europa.eu/pub/economic-research/resbull/2020/html/ecb.rb201013~62edc59cb8.pt.html
3 - Gregório MJ, Santos CT, Ferreira S, Graça P. Alimentação Inteligente - coma melhor, poupe mais. [Internet]. 2012 [cited 2021 Feb 15]. 6–7 p. Available from: https://www.dgs.pt/em-destaque/o-livro-alimentacao-inteligente-coma-melhor-poupe-mais-foi-o-vencedor-do-premio-nutrition-awards-2013-1.aspx
4 - Zinöcker MK, Lindseth IA. The Western Diet-Microbiome-Host Interaction and Its Role in Metabolic Disease. 2018 [cited 2021 Mar 1]; Available from: www.mdpi.com/journal/nutrients
5 - Berry EM. Sustainable food systems and the mediterranean diet. Nutrients [Internet]. 2019 Sep 1 [cited 2021 Jan 17];11(9). Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31527411/
6 -De DK, Nathaniel M, Olawole O. Cooking with Minimum Energy and Protection of Environments and Health. IERI Procedia [Internet]. 2014 [cited 2021 Feb 21];9:148–55. Available from: www.sciencedirect.com
7 - Yuan GF, Sun B, Yuan J, Wang QM. Effects of different cooking methods on health-promoting compounds of broccoli. J Zhejiang Univ Sci B [Internet]. 2009 [cited 2021 Feb 21];10(8):580–8. Available from: /pmc/articles/PMC2722699/