Hoje celebramos todas as mulheres e os seus diversos papéis, de mães, esposas, filhas, profissionais, donas de casa, cuidadoras. Assinalamos também séculos de luta pela igualdade e a crença de que, apesar de muitas e importantes vitórias, muito continua ainda por fazer. Falar das mulheres e da sua condição é também neste dia lembrar que são elas são as principais vítimas das alterações climáticas e o seu importante contributo para a sustentabilidade do planeta:
"Um aspeto frequentemente negligenciado na ação climática é a igualdade de género, embora tenha grandes implicações para a ligação entre clima e desenvolvimento. Sabe-se que o impacto das alterações climáticas é diferenciado, pois as mulheres tendem a ser mais atingidas pelos desastres naturais e fenómenos meteorológicos extremos, bem como pela degradação ambiental que afeta os seus meios de subsistência, particularmente nos países mais pobres. Com efeito, 70% da população mundial mais empobrecida são mulheres e estas realizam cerca de 2/3 de todo o trabalho efetuado, mas detêm menos de 1% da totalidade dos bens existentes, sendo-lhes negado frequentemente o acesso e controlo em matéria de recursos, tecnologia, direitos fundiários, sistemas de crédito e poder de decisão (PE, 2012). Assim, a desigualdade é agravada pelo facto de enfrentarem barreiras sociais, económicas e políticas que limitam a sua capacidade de resposta (UN WomenWatch, s.d.). Por outro lado, as mulheres têm também um papel fundamental enquanto agentes de mudança, uma vez que frequentemente são elas que trabalham a terra e gerem o fornecimento de água e energia, pelo que o seu empoderamento é decisivo para o sucesso de estratégias de mitigação e de adaptação climática nas suas comunidades. No entanto, estes impactos diferenciados ainda não são devidamente dos em conta na legislação e nas decisões políticas, para além das mulheres ainda serem pouco envolvidas nos processos de tomada de decisão (PE, 2017b)." ("Alterações Climáticas e Desenvolvimento", “COERENCIA.PT: O Eixo do Desenvolvimento mais justo, mais digno, mais sustentável”, implementado em Portugal pela FEC | Fundação Fé e Cooperação e pelo IMVF – Ins tuto Marquês de Valle Flôr
É precisamente por isso que hoje destacamos seis mulheres que têm dedicado a sua vida à sustentabilidade do planeta, cada uma com a sua causa e à frente de projetos que transformam vidas e o mundo.
1- Bea Johnson - Movimento Zero Waste
“Mãe” do movimento internacional Zero Waste, Bea Johnson é uma grande inspiração para nós. Foi impulsionado pela sua história que o sonho da Maria Granel se materializou. “Nunca tínhamos ouvido falar da Bea nem da expressão zero waste. Na altura, o que mais nos fascinou foi o momento em que a Bea foi às compras carregada com os seus frascos, enquanto se abastecia diretamente dos dispensadores, a importância decisiva do granel para a diminuição dos resíduos produzidos em família”, relembra a nossa Eunice.
Bea Johnson inspira a mudança justamente por tê-la vivido. A sua jornada de redução começou quando a família se muda para uma casa mais pequena e se vê forçada a armazenar grande parte dos seus bens. A partir daí, uma viagem minimalista acontece e o seu exemplo extrapola para o mundo, inspirando milhares de pessoas através do movimento Zero Waste, do seu livro Desperdício Zero e das suas palestras.
Imagem: Revista Estante - Fnac
2- Ana Pêgo - Projeto Plasticus Maritimus
Ana Pêgo é outra mulher inspiradora, um exemplo de garra e energia. Além de bióloga marinha, investigadora na área dos oceanos, “artivista” e autora do livro “Plasticus Maritimus: Uma Espécie Invasora”, Ana desenvolve um projeto educativo voltado à sensibilização e educação ambiental para a conservação dos oceanos, conciliando ciência e arte.
Para nós, a Ana é uma espécie de consciência coletiva, uma voz ativa e (ativista) que nunca desiste de transformar o que a rodeia e de tornar, com as suas próprias mãos, o mundo num lugar melhor. É a personificação do verbo agir!
Imagem: Revista Visão
3- Helena Antónia - Vintage for a Cause
De uma infância onde utilizava roupas transformadas pelas mãos da mãe costureira, Helena Antónia cresce e entrega ao mundo o projeto Vintage for a Cause, uma plataforma colaborativa que assenta nos princípios do reaproveitamento de desperdício têxtil e da inclusão. Ou seja, uma iniciativa que ancora as suas raízes, promovendo uma forma diferente de encarar a roupa e a sua relação com as pessoas que a fazem.
Desde 2012, numa lógica de economia circular, o projeto prevê a criação de roupas a partir do desperdício têxtil e stock morto de outras marcas. Além disso, o valor das vendas é reinvestido no próprio projeto que integra oficinas de reaproveitamento de roupas e materiais inutilizados a mulheres desempregadas acima dos 50 anos.
Comprometida com estimular a autoestima, a saúde mental e o bem-estar das mulheres beneficiárias do projeto, Helena Antónia segue firme na sua missão e os resultados impressionam: desde o início, em 2013, a Vintage For a Cause já contribuiu para uma poupança de cerca de 1000 kg de desperdício têxtil, 3 milhões litros de água e 7 mil kg de dióxido de carbono.
Exemplos como o da Helena provam que é possível a moda ser inclusiva e sustentável.
Imagem: Arquivo Helena Antónia
4 - Milene Matos - Associação BioLiving
“Visitei e foi amor à primeira vista. A flora da Mata era relativamente conhecida, mas a fauna nunca tinha sido estudada. Nesse ano fiz não só o estudo das aves, mas de todos os vertebrados”. Milene apaixonou-se pela Mata do Bussaco no final da licenciatura, em 2003, quando os professores orientadores lhe propuseram estudar as aves daquele lugar. Ao longo dos anos seguintes, dedicar-se-ia aos estudos na Mata e região envolvente, interessando-se pela organização de acções de educação ambiental. Em 2011 começou o pós-doutoramento em comunicação de ciência na Universidade de Aveiro e criou um serviço educativo no Bussaco, colaborando igualmente na gestão da mata, na estratégia de promoção e na monitorização da biodiversidade. Foi assim que surgiu também o projecto “Biodiversidade para Todos”, com o qual a bióloga e investigadora ganhou o prémio Terre de Femmes. O seu serviço educativo dirige-se a pessoas com origens e idades diferentes: idosos, crianças em idade escolar, grupos de visitantes e voluntários, mas também funcionários que trabalham na Mata e reclusos que ali colaboram.
Créditos: Terre de Femmes
5- Raquel Gaspar - Ocean Alive Org
Bióloga marinha, co-fundadora da Ocean Alive Org. e responsável pelo projeto "Guardiãs do Mar". A sua paixão pelo mar nasceu graças aos episódios de Jacques Costeau, a que assistia religiosamente todos os domingos. Não admira por isso que o seu primeiro sonho tenha sido viver no mar. E conseguiu realizá-lo, na década de 80, ainda como estudante, indo trabalhar para os Açores com a IFAW (International Fund for Animal Welfare).
Em 2015, juntamente com a bióloga marinha Sílvia Tavares e a gestora Sofia Jorge, criou a Ocean Alive, uma cooperativa que tem como objetivo proteger as pradarias marinhas do Estuário do Sado, transformando o conhecimento das pessoas, envolvendo a comunidade piscatória e a comunidade do estuário na transformação de comportamentos, dando-lhes oportunidades, seja através das campanhas de limpeza, seja através de programas educativos.
Foi a primeira portuguesa a receber a distinção National Geographic Explorer. Foi também laureada com o Prémio Terre de Femmes 2017. O seu trabalho extraordinário e mérito têm sido reconhecidos e aclamados nacional e internacionalmente, recebendo inúmeros fundos, bolsas e prémios.
Créditos: Terre de Femmes
6 - Ruhama Getahun
Ruhama Getahun, vencedora da edição internacional do Prémio Terre de Femmes, é uma força da natureza. Aos 22 anos, numa sociedade marcadamente patriarcal, depois de ter conseguido completar os seus estudos universitários em engenharia ambiental, conseguiu mobilizar as mulheres da sua comunidade para reflorestar na Etiópia os solos degradados pelo desmatamento e regenerar a sua biodiversidade. A sua Organização Integrated Women’s Development trabalha lado a lado com a Foundation Green Ethiopia para conseguir implementar um programa de reflorestação de 600 hectares!
Créditos: Terre de Femmes
Por fim, celebramos também a nossa equipa, que é composta maioritariamente por mulheres: Patrícia Mil-Homens, Rogéria Cunha, Nélia Carreira, Ana Filipa, Lizandra Gasparro e Eunice Maia!
“Quando as mulheres reafirmam o seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora, uma inventora e ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior”, trecho do livro Mulheres que Correm com os Lobos - Clarissa Pinkola.