Com a chegada do outono e, com ele, dos dias mais frios, no artigo de hoje, abordamos uma das bebidas quentes mais consumidas no nosso país, o café. Por muitos consumido diariamente, esta é uma bebida que faz parte da rotina da maioria dos portugueses, bem como de grande parte da população mundial, sendo consumido e preparado das mais diversas formas. O ato de beber um café pode desta forma ser encarado como uma espécie de ritual, seja para dar início ao dia ou, por exemplo, terminar uma refeição, o ritual do café.
Assim, iremos abordar diversos aspetos associados ao mesmo, desde a origem desta bebida tão popular, a opções de consumo mais sustentável, passando por aspetos como os potenciais benefícios para a saúde.
Uma bebida milenar
O café, juntamente com o chá, encontra-se entre as bebidas mais consumidas em todo o mundo. Terá tido origem na Etiópia, tendo sido descoberto em 575 d.C. Ainda assim, o café como o conhecemos - uma infusao a partir dos grãos torrados e moídos - poderá ter a sua origem no Iémen, primeiramente produzido no século XIV. [1,2]
A planta do café, Coffea Rubiaceae, cresce a altitudes elevadas e identificam-se cerca de 70 espécies da mesma. No entanto, destacam-se as espécies C. arabica (café arábica) e C. canephora (café robusta) como as mais exploradas comercialmente. [1,2]
Estas 2 variedades diferem em sabor, aparência e até teor de cafeína. O café arábica destaca-se como o mais consumido a nível mundial, representando 70% da produção de café e, tendo um sabor suave e aromático. O café robusta, típico do sudeste asiático e Brasil, representa 30 % do mercado mundial e possui um sabor mais amargo e com mais 50 % de cafeína do que o arábica. [2,3]
Hoje em dia, o café é consumido um pouco por todo o mundo, na forma de bebida ou integrado noutros produtos alimentares, sendo valorizadas as suas características sensoriais e sabor único. [1,2]
O consumo de café em Portugal
O consumo de café em Portugal é de facto bastante prevalente. Segundo um estudo, destacam-se como principais motivações para este consumo, o sabor, o efeito energético e, puramente, o hábito de consumir café. [4]
O tipo de café mais consumido é o expresso e cerca de 42,3% dos portugueses consomem em média 2 cafés diariamente, sendo que 22,2% chegam aos 3 a 5 cafés por dia. [4,5]
Quanto a ocasiões de consumo, as alturas mais propícias parecem ser o almoço, pequeno-almoço e nas refeições fora de casa (restaurantes). Os locais de trabalho ou de estudo revelam-se os preferido neste aspeto, seguidos do consumo em casa, no qual se destacam as máquinas de café expresso com sistema de cápsulas. [4]
Aspetos nutricionais do café
O café como o consumimos não apresenta valores muito relevantes do ponto de vista nutricional - ainda que possua alguns minerais como o fósforo, magnésio e, entre os mais relevantes, o potássio. [3,6] É , no entanto, uma bebida complexa que contém mais de 1.000 compostos botânicos, muitos dos quais são biologicamente ativos, incluindo a cafeína (um estimulante do sistema nervoso central e broncodilatador), diterpenos, ácido clorogénico, melanoides, etc - todos os quais conferem efeitos antioxidantes e antiinflamatórios. [6]
A cafeína é amplamente responsável pela natureza intrinsecamente formadora de hábito do café. [6]
Quais os benefícios para a saúde? [3,7]
Associamos muitas vezes o café a uma redução da sensação de fadiga, aumento dos níveis de alerta e atenção, bem como por vezes ainda melhoria do raciocínio e memória.
De facto, o consumo de café tem vindo a ser associado a diversos potenciais benefícios para a saúde e bem-estar. Entre estes, existe alguma evidênia de que possa proteger contra doenças como o cancro do cólon, diabetes tipo 2, cirrose hepática, carcinoma hepatocelular e depressão. Parece ainda contribuir para a manutenção das funções cognitivas no envelhecimento, reduzindo o risco de doença de Alzheimer e Parkinson.
Atribuem-se estes benefícios à presença de cafeína e compostos antioxidantes, no entanto é necessária mais pesquisa científica para melhor compreender estes efeitos.
Quanto beber?
Segundo a EFSA - European Food Safety Authority, doses diárias de até 400mg de cafeína por dia são consideradas seguras em adultos saudáveis, à exceção de mulheres grávidas. Este valor, 400mg, deverá incluir todas as fontes de exposição a cafeína (p.ex. café, bebidas energéticas, refrigerantes...).
Considerando o teor médio de cafeína presente no café em Portugal, aconselha-se um consumo médio de 2 a 3 cafés por dia, em adultos saudáveis. Esta porção é também apontada em alguns estudos como sendo eficaz para potenciar a melhoria da função congnitiva.
Fonte: Adaptado de Gaspar S da S. Avaliação do risco da exposição a substâncias estimulantes (cafeína, taurina e glucuronolactona) em adolescentes do Distrito de Lisboa. 2014
Nota: deve ser sempre respeitada a suscetibilidade individual à cafeína.
Em mulheres que pretendem engravidar, grávidas ou a amamentar, as recomendações apontam para um valor total de 200mg de cafeína por dia, considerando que a cafeína é uma substância que atravessa a barreira placentária, podendo afetar o feto.
Café mais sustentável
Existem algumas medidas que podemos tomar para que o café que bebemos seja mais sustentavel, nomeadamente:
- Comprar café fair trade;
- Quando consumido em casa, optar por métodos que produzem menos lixo, como por exemplo:
- Café de cafeteira (no fogão, infusão lenta, etc)
- Máquinas sem sistema de cápsulas
- Cápsulas de café reutilizáveis (atualmente disponíveis para diversos tipos de máquinas, nomeadamente na loja da Maria Granel
- Reaproveitar ou compostar as borras.
Fontes:
1 - Harold McGee. On Food and Cooking. 2004. Available from: https://sites.google.com/a/libeho-namobu.web.app/womorillobooks/-get-harold-mcgee-s-book-on-food-and-cooking-the-science-and-lore-of-the-kitchen
2 - Butt MS, Sultan MT. Coffee and its consumption: Benefits and risks [Internet]. Vol. 51, Critical Reviews in Food Science and Nutrition. Crit Rev Food Sci Nutr; 2011. p. 363–73. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21432699/
3 - Associação Portuguesa de Nutrição. 5 Questões sobre café. 2016. Available from: https://www.apn.org.pt/documentos/guias/5_questoes_sobre_o_cafe_Final_1.pdf
4 - Miguel P, Borges L. "Caracterização do perfil dos consumidores de café em Portugal : impacto do género". 2016. Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa. Instituto Superior de Economia e Gestão.
5 - Grande Consumo. Quantos cafés consumiram em média os portugueses e de que marcas? [Internet]. Revista dos Negócios de Distribuição. 2020 [cited 2021 Oct 6]. Available from: https://grandeconsumo.com/quantos-cafes-consumiram-em-media-os-portugueses-e-de-que-marcas/#.YV3ODZrMLIW
6 - GV de MP, DP de CN, AI MJ, FG do P, MGB P, SG K, et al. Chemical composition and health properties of coffee and coffee by-products. Adv Food Nutr Res [Internet]. 2020 Jan 1 [cited 2021 Oct 6];91:65–96. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32035601/
7 - R Poole, O. Kennedy, P Roderick, et al. Coffee consumption and health: umbrella review of meta-analyses of multiple health outcomes. BMJ [Internet]. 2017 Nov 22 [cited 2021 Oct 6];359:j5024. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29167102/
8 - Caffeine | EFSA [Internet]. [cited 2021 Oct 6]. Available from: https://www.efsa.europa.eu/en/topics/topic/caffeine