No artigo de hoje, abordamos o tema das “bebidas vegetais – uma alternativa sustentável?”, comummente conhecidas como leites vegetais, sob uma perspetiva que engloba a nutrição e a sustentabilidade, explorando de que forma a integração das mesmas na alimentação poderá fazer sentido.
O QUE SÃO BEBIDAS VEGETAIS?
As bebidas vegetais, comummente referidas como leites vegetais, tratam-se de extratos aquosos de leguminosas, sementes, frutos oleaginosos, cereais ou pseudocereais. Existem atualmente no mercado diversas alternativas, nomeadamente, bebidas de:
- Soja
- Amêndoa
- Aveia
- Arroz
- Coco
- Avelã
- Quinoa
Assemelham-se na aparência ao leite de vaca, pelo que, também por esta razão, acabam por funcionar como alternativas vegetais ao mesmo.
TENDÊNCIAS DE CONSUMO
A procura das alternativas vegetais ao leite tem vindo a aumentar de forma global, em especial, entre quem segue uma alimentação de base vegetal – ainda que existam muitas outras possíveis motivações associadas, entre as quais:
- Questões de saúde (inteloerâncias ou alergias a componentes do leite de vaca);
- Preferência pelo sabor;
- Considerações éticas;
- Diversificação alimentar;
- Preocupações a nível ambiental.
Na verdade, sabemos que atualmente em países desenvolvidos existe uma inclinação do consumidor para estilos de vida mais saudáveis e as bebidas vegetais são muitas vezes associadas aos mesmos.
Segundo a Transparency Market Research (TMR), prevê-se um aumento de cerca de 8% anualmente neste setor – entre o período de 2019 a 2029. [2]
A nível nacional, os dados refletem também esta tendência:
PERFIL NUTRICIONAL
A nível nutricional, a sua constituição pode ser bastante diferente do leite de vaca, diferindo também consoante o alimento que lhes dá origem.
- A nível proteico, a bebida de soja é a que mais se assemelha ao leite de vaca, ainda que com menor qualidade proteica – o que não terá que representar um problema, desde que haja a prática de uma alimentação equilibrada e diversificada.
Fonte: Borges N, Cabilhas A. Bebidas vegetais – uma boa alternativa ao leite? • Pensar Nutrição [Internet]. Pensar Nutrição. 2022 [cited 1 May 2022]. Available from: https://pensarnutricao.pt/bebidas-vegetais-alternativa-leite/
- O tipo de gordura presente nas mesmas é, predominantemente, insaturada (“gordura boa”), à exceção da bebida de coco que apresenta gordura saturada (normalmente presente em alimentos de origem animal).
- Todas elas são naturalmente isentas de lactose (açúcar naturalmente presente no leite de vaca).
A NÍVEL AMBIENTAL - Bebidas Vegetais – uma alternativa sustentável?
Ainda que o leite de vaca se trate de um alimento central no padrão alimentar de muitos países no mundo, este pode ter um impacto relevante na pegada ecológica, sendo um forte contribuidor para a emissão de gases com efeito de estufa.
Neste sentido, as alternativas vegetais podem surgir como uma opção mais sustentável, ainda que, da mesma forma que o perfil nutricional depende do alimento que lhes dá origem, também o impacto ambiental será dependente deste fator. Desta forma, algumas bebidas poderão ser mais favoráveis que outras.
Se olharmos para as diferentes métricas envolvidas:
Fonte: Poore J, Nemecek T. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science . 2018; 2. Our World in Data [Internet]. Our World in Data. 2022. Available from: https://ourworldindata.org/
Podemos verificar que em todos os parâmetros o leite de vaca acaba por sobressair de forma negativa, tendo maior impacto que qualquer bebida vegetal. Estas, por sua vez, poderão ter mais os menos impacto consoante a métrica em análise:
- Menor pegada hídrica – soja
- Menor pegada carbono – amêndoa
- Menor uso solo – arroz
- Menor eutrofização – soja
AVALIAÇÃO CICLO DE VIDA
Para avaliar o custo ambiental dos alimentos, devemos considerar ainda fatores como o processamento, transporte, embalamento, entre outros – no fundo, avaliar todo o ciclo de vida do produto e as diferentes etapas por que passa.
Tendo isto em conta, poderá fazer sentido pensar na produção das bebidas vegetais em casa, “cortando” algumas etapas como o embalamento a que seriam sujeitas.
Quais as vantagens e desvantagens desta opção?
De facto, como indicado na imagem anterior, também a nível monetário esta poderá ser uma alternativa bastante benéfica. A título de exemplo, se olharmos para o caso da bebida de aveia e da bebida de amêndoa:
DESPERDÍCIO ALIMENTAR
Tratando-se de estratos aquosos, a polpa destes alimentos não é necessária para o produto final e pode acabar por ser desperdiçada.
Optando por fazer este tipo de bebidas em casa, podemos reaproveitar a polpa, rentabilizando o custo do alimento e dando origem a preparações que podem ser tão deliciosas como criativas:
- Bolachas, papas, bolos, granola, barras cereais, queijo vegetal, patê…
Como exemplo para aproveitar este tipo de farelo, espreita a receita do E-book Alimentação Sustentável que partilhámos recentemente no instagram da Maria Granel!
Fontes:
1 - Mäkinen O, Wanhalinna V, Zannini E, Arendt E. Foods for Special Dietary Needs: Non-dairy Plant-based Milk Substitutes and Fermented Dairy-type Products. Critical Reviews in Food Science and Nutrition. 2015;56(3):339-349.
2 - Plant-based Milk Market [Internet]. Transparencymarketresearch.com. 2022 [cited 2 May 2022]. Available from: https://www.transparencymarketresearch.com/plant-based-milk-market.html
3 - Estatísticas da Produção e Consumo de Leite 2015. Instituto Nacional de Estatística, I. P; 2015.
4 - Vanga S, Raghavan V. How well do plant based alternatives fare nutritionally compared to cow’s milk?. Journal of Food Science and Technology. 2017;55(1):10-20.
5 - Sethi S, Tyagi S, Anurag R. Plant-based milk alternatives an emerging segment of functional beverages: a review. Journal of Food Science and Technology. 2016;53(9):3408-3423.
6 - Borges N, Cabilhas A. Bebidas vegetais – uma boa alternativa ao leite? • Pensar Nutrição [Internet]. Pensar Nutrição. 2022 [cited 1 May 2022]. Available from: https://pensarnutricao.pt/bebidas-vegetais-alternativa-leite/
7 - Poore J, Nemecek T. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science . 2018
