“Plastic Free July” – Construção de uma “nave”

No nosso último artigo, descobrimos os benefícios de ir às compras de uma forma diferente. O granel (re)ssurge para resgatar os saberes de um época em que os nossos antepassados compravam apenas aquilo de que necessitavam nas mercearias de bairro. Provavelmente desse lado, assim como nós, acompanharam os avós num destes estabelecimentos. Café em grão, farinhas, açúcar, arroz, feijão e até leite, tudo isso era possível encontrar a granel.

De lá para cá, algumas décadas passaram e uma forma (inovadora) surgiu para “proteger” os alimentos – as embalagens de plástico. De facto, elas acondicionam e protegem os produtos ao longo das etapas da cadeia alimentar – na produção, na distribuição, nos transportes, no retalho e por fim quando são adquiridos pelo consumidor final. É uma grande “saga” que os alimentos/produtos percorrem até chegar a nós em perfeitas condições. Reconhecemos o valor das embalagens, no entanto, em todas as fases que descrevemos há emissão dos gases que provocam o efeito estufa, que somados ao facto de estas embalagens possuírem uma vida curta, já que rapidamente viram resíduos (pós-consumo).

 

Infográfico (1 de 2) – Associação Portuguesa de Nutrição (APN)

Infográfico (2 de 2) – Associação Portuguesa de Nutrição (APN)

É simples termos uma noção mais clara deste desafio, basta olharmos (atentamente) para o nosso caixote do lixo e perceber se boa parte dos resíduos são ou não embalagens de produtos e alimentos. Recentemente partilhamos a nossa experiência de “vasculhar” e fazer uma verdadeira “auditoria” no nosso lixo, a fim de identificar as divisórias da casa que mais geram resíduos.

Você sabia?

A Associação Portuguesa de Nutrição (APN) publicou um e-book em que reflecte sobre a sustentabilidade alimentar dos portugueses. O estudo revelou que o plástico é a embalagem mais utilizada pelos cidadãos (71,2% dos materiais reportados), seguido pelo vidro (9,4%).

Como reverter este cenário?

Parte da resposta para mitigarmos ou minimizarmos as emissões de gases que provocam o efeito estufa passa por consumirmos alimentos que sejam produzidos em proximidade, que tenham uma cadeia de distribuição curta, isto porque o produto “andará menos” para chegar até nós. É bom para a economia local, para nós e para o ambiente!

A outra parte da resposta para diminuirmos o uso de embalagens descartáveis está no início deste artigo. Uma palavra pequenina que traduz a sua grandiosidade quando o tema é combater o desperdício alimentar.

Comprar apenas o que precisamos é um ato político (e de amor). É sobre exercermos a nossa liberdade de controlarmos as quantidades que, de facto, consumiremos, sem que haja desperdícios.

É neste cenário que as mercearias a granel (reflorescem) com a missão de contribuírem para a diminuição do desperdício alimentar, possibilitando aos seus fregueses uma alternativa socioalmente justa, ambientalmente consciente e economicamente viável, sem que haja perdas e tão pouco descarte de embalagens.

“Lembro-me de que, quando comecei a ter consciência do impacto nocivo do plástico na nossa saúde e na saúde do planeta, houve uma fase inicial de completa rejeição deste material e também uma perceção avassaladora da sua omnipresença. Tentar eliminar o plástico desatando a comprar objetos feitos de materiais mais «sustentáveis» para o substituir é absurdo; não há nada mais sustentável do que aquilo que já temos”, partilha a nossa Eunice sobre a sua caminhada.

Acreditamos que um dos segredos para conseguirmos diminuir o uso dos descartáveis é sermos CRIATIVOS! Isso mesmo, tentarmos REUTILIZAR produtos que já temos, dando-os uma nova vida, pode (perfeitamente) substituir os plásticos que acabam por “entulhar” os nossos caixotes de lixo e posteriormente o ambiente.

Uma “nave” em casa

Calma! Isso não é nenhum filme de ficção científica. 🙂

Uma nave é a forma como “vestimos” as nossas despensas. Um conceito criado pela nossa querida Sara Diniz, que exemplifica a transformação do espaço, que antes armazenava produtos embalados, para acolher os frascos que transportam os alimentos da mercearia a granel até as nossas casas.

Acreditamos verdadeiramente que a redução do desperdício começa na despensa – no coração da cozinha. No livro “Desafio Zero” a nossa Eunice partilha algumas dicas (preciosas) para iniciarmos (hoje mesmo) a construção da nossa nave.

Passo a passo

1º Planear as compras – Usar a (boa e velha) lista de compra é um bom começo, escolher o que se pretende preparar também pode ajudar neste processo!

2º Não descartar os alimentos que estão embalados – Se ainda há produtos embalados na sua despensa, não os deite fora! Finalize este ciclo (sem desperdício) e assim que for possível tente consumir a granel.

3º Reaproveitar os frascos antigos – É hora de dar vida aos antigos frascos de compotas, mel e molhos … Viva a diversidade!

4º Legendar os frascos – Para que possamos acompanhar os prazos de validade e identificar os alimentos que nos podem confundir (como o caso das farinhas).

5º Esterilizar os frascos – Antes de utilizá-los devemos garantir que estão limpos. A maneira mais eficiente é esterilizá-los:

Fonte: Canal Jamie Oliver

6º Retirar os rótulos – Descubra neste artigo, que publicamos recentemente, como retirar aqueles rótulos que insistem em ficarem agarrados aos frascos.

7º Utilizar funis – Para facilitar a entrada dos alimentos nos frascos, pode contar com a ajuda de um funil – caso não tenha um, é possível fazer com papel (mais espesso), não há necessidade de comprar um novo.

8º Evitar pragas – Recorremos aos segredos antigos – colocamos nos frascos uma folha de louro e um cravinho.

9º Organize os frascos – Agrupar os alimentos por “famílias” pode ajudar a controlar melhor quantidades e acessibilidade:

  • Especiarias, temperos e aromáticas
  • Frutos secos e sementes
  • Cereais de pequeno-almoço
  • Leguminosas
  • Farinhas
  • Açúcares
  • Guloseimas (chocolates, bolachas e gomas)
  • Chás e infusões.

Com o tempo perceberemos as vantagens de consumirmos a granel, todos ganham!

 

Fonte – “Desafio Zero”

 

Ficou inspirada (o) para “dar asas” à sua despensa?

Separamos algumas naves (lindas e inspiradoras) de pessoas queridas!

 

E por aí, alguma “nave de outro mundo”?

Contem-nos tudo!