Uma das secções mais visitadas e apreciadas nas nossas lojas é a das ervas para chás e infusões. Disponíveis a granel, somadas, são mais de 30 tipos diferentes, com origem nacional e também oriundas de todas as partes do mundo, despertando curiosidade e uma dúvida comum – quais as principais diferenças entre os chás e as infusões?
Secção de chás e infusões – loja Campo de Ourique. Imagem: Duarte Rato
Principais diferenças – Chá e infusão
Chá
Todo chá é uma infusão, mas nem toda infusão é um chá. Quimicamente, para termos uma infusão, é necessário imergir alguns ingredientes.
O que dizem os especialistas
Para compreendermos melhor o vasto universo dos chás, convidámos a sommelière de chá e tea blending Raquel Magalhães. Com formação em terapia ayurvédica, é pioneira na gastronomia com chá e harmonização. Faz consultoria nesta área e participou também nos programas de TV “Bela Gil – Vida mais Bela”, do GNT, e “Cozinha criativa”. A especialista explica que são consideradas chás, as infusões preparadas a partir da planta Camellia Sinensis , que possuí naturalmente a substância teína (estimulante). Esta espécie dá origem a seis grupos de diferentes chás, tendo em conta os seus processos de oxidação (maturação) e secagem. “Quanto mais escuro for o chá, maior é o seu nível de oxidação que, por usa vez, indica maior presença de teína”, refere Raquel.
Chá branco
É o mais delicado dos chás. Por ser extraído a partir de um broto, antes mesmo do florescimento da planta, possui uma maior concentração de antioxidantes. De todos os chás, o branco é o menos processado, contendo (normalmente) menos teína. Curiosidade: Conhecido como o chá da beleza, por ser o de maior concentração de antioxidantes.
Chá verde
Mais encorpado do que o chá branco, é rico em antioxidantes. Possui uma concentração moderada de teína e é 0% oxidado. A sommelière conta que a erva matcha (que é considerada chá verde) possui 10 vezes mais antioxidantes do que o próprio chá verde. “É um chá muito artesanal, moído à mão. Os produtores conseguem produzir apenas 40 gramas por hora. Motivos que justificam o seu valor, inclusive comercial”, diz ela. Curiosidade: É o chá mais versátil, com mais de 200 variedades.
Chá amarelo
De sabor herbal, que remete ao chá verde, é produzido apenas na China e em quantidades limitadas, o que o torna raro. Curiosidade: Há quem diga que o chá amarelo surgiu devido a um “erro” no processamento do chá verde.
Chá oolong ou azul
Com um sabor complexo, é um chá parcialmente oxidado, podendo variar de 20 a 80%. Curiosidade: São necessários 2,5 kg de folhas verdes para fazer 0,5 kg de oolong.
Chá preto ou vermelho
É a variedade mais comum, com maior concentração de teína e 100% de oxidação. Curiosidade: Reza a lenda que um produtor de chá verde, com receio de atrasar um pedido de um imperador europeu, secou as folhas de chá numa fogueira de pinheiro. O resultado foi um chá com sabor “defumado”, que acabou por agradar ao “importador”.
Chá escuro
Assim como o chá preto também é 100% oxidado, porém também é fermentado (na pós produção). É considerado o whisky ou vinho dos chás. Quanto mais antigo, mais valioso. Existe dois tipos de chá escuro – o Pu-erh (cru ou cozido) e Hei Cha. Curiosidade: Em 2009, os pu-erhs receberam a denominação de Identificação Geográfica Protegida, uma certificação oficial regulamentada pela União Europeia atribuída a produtos gastronómicos ou agrícolas tradicionalmente produzidos numa região, neste caso no sul da província de Yunnan (na China).
Os benefícios do chá
Por ser uma bebida rica em antioxidantes, substâncias que nos ajudam a combater os radicais livres (que são tóxicos), o chá possui inúmeros benefícios para a nossa saúde:
Melhora a concentração;
Aumenta os níveis de energia;
Estimulante natural;
Forte aliado na prevenção de doenças cardiovasculares;
Previne a diabetes;
Previne as doenças cardiovasculares;
Contribui para diminuir os níveis de “colesterol mau” (LDL – lipoproteína de baixa densidade);
Aumenta o metabolismo;
Tem efeito antibacteriano e anti-inflamatório;
Elimina as toxinas;
Combate a retenção de líquidos.
Fonte: Nutricionista Ana Sofia Guerra
“O chá merece ser degustado, e desfrutado como um vinho, com a vantagem de nós proporcionar inúmeros benefícios para a saúde”, sublinha Raquel Magalhães.
Escolhemos dois chás que disponibilizamos nas nossas lojas e que são os preferidos dos nossos queridos fregueses:
Chá preto (chai)
Apreciado e tradicional na Índia, o chai (pronuncia-se “tchai”) é um chá preto com especiarias, cujos ingredientes na nossa versão são: canela, cravinho, gengibre, baunilha, cardamomo e pimenta preta.
Chá preto (Chai) – Maria Granel
É uma ótima escolha para aumentar a vitalidade, prevenir gripes, estimular o metabolismo, cuidar da saúde cardiovascular e reduzir inchaços. Preparação: Numa chávena colocamos 1 colher (pequena) do preparado em água (em ebulição – a 100ºC), durante 3 a 5 minutos.
Early Grey
Um tipo de chá preto que possui na sua composição uma mistura de Ceilão e chá preto indiano, aromatizado com óleo essencial de bergamota.
Early Grey – Maria Granel
Este chá auxilia na digestão, combate infecções estomacais, elimina o excesso de gorduras prejudiciais ao coração, auxilia em sintomas de depressão, combate a retenção de líquidos, por possuir antioxidantes previne o envelhecimento precoce e protege os dentes. Preparação – Uma colher de chá numa chávena com água a 95ºC, por 4 – 5 minutos.
Açores, a primeira plantação de chá da Europa
Não é preciso sair de Portugal para consumirmos uma boa chávena de chá. Temos nos Açores, na Ilha de São Miguel, a maior plantação da camellia Sinensis do país e a primeira a ser cultivada na Europa. Segundo a nutricionista Ana Sofia Guerra, a Ilha de São Miguel possui o clima ideal para o crescimento da espécie.
“Curiosamente, já tive pacientes da Ilha que consumiam cerca de um litro de chá verde, diariamente, e as suas tensões arteriais eram, frequentemente, baixas. Isso porque o chá possui propriedades que previnem as doenças cardiovasculares.”, explica Ana.
Plantação de camellia Sinensis (Ilha de São Miguel). Imagem: Nuno França
Infusão
O termo define o processo químico que extrai os compostos das plantas por meio da imersão em água quente (Jäger et al., 201, Preparation of Herbal Tea as Infusion or by Maceration at Room Temperature Using Mistletoe Tea). Quando o processo não tem origem na planta Camellia Sinensis, a bebida é considerada uma infusão: de camomila, lavanda, hortelã, erva-príncipe, cidreira e outras tantas plantas.
Uma vez que, para fazermos uma infusão, podemos utilizar diversas plantas, cada uma delas possui uma propriedade benéfica para o nosso corpo. Cada espécie guarda um segredo. Em loja, consulte connosco os respetivos benefícios.
Infusões disponíveis nas lojas de Alvalade e Campo de Ourique
Selecionámos duas infusões que conquistaram os corações dos nossos fregueses (e os nossos), por serem opções versáteis e saborosas para tomarmos frescas ou quentes.
Ice Tea
Uma mistura (especial) de rooibos, casca de limão, menta, erva-príncipe e pétalas de rosa. Uma excelente companhia para os dias quentes!
Ice Tea – Maria Granel
Preparação: uma colher de chá numa chávena com água a 100ºC por 7 a 10 minutos. Para a versão fria, deixamos a arrefecer por, pelo menos, 2 horas no frigorífico.
Gengibre e Limão
Outra mistura que pode tanto aquecer-nos nos dias frios como refrescar-nos na praia, por exemplo. Ingredientes: chá verde, erva-príncipe , casca de limão e gengibre.
Gengibre e limão – Maria Granel
Preparação: colocar a mistura em água entre os 70ºC – 80ºC durante 3 minutos.
Como armazenar os chás e as infusões?
Com anos de experiência no universo dos chás e das infusões, Raquel Magalhães garante que a melhor opção é comprar as folhas a granel. “É uma vantagem estar diante dos chás ou das infusões e ter a possibilidade de saber o que está a comprar, podendo sentir o aroma é a garantia de que estamos a consumir um bom produto. Ainda mais, quando este é biológico e cultivado com respeito pelos produtores e ao ambiente”.
Depois de comprados (preferencialmente a granel), é recomendado que os chás sejam conservados em latas ou frascos de vidro escuros, vem vedados e ao abrigo da luz. As infusões também devem estar armazenadas em latas ou frascos de vidros, com a diferença de estes serem claros.
Curiosidades
O chá é a segunda bebida mais consumida em todo o mundo, depois da água. Surgiu (acidentalmente) na China há mais de cinco mil anos. Reza a lenda que no ano 2.737 A.C, um imperador chinês e a sua corte faziam uma pausa durante uma viagem e, enquanto esperavam por água quente, algumas folhas caíram na panela e produziu um líquido escuro. O imperador, curioso com o fenómeno, experimenta a bebida e define-a como refrescante. Assim nasce o chá, que conquista rapidamente uma nação e expande horizontes além fronteiras.
Portugal, o primeiro país europeu a consumir chá
Muito depois de ter surgido o chá, ele desembarca na Europa, em meados de 1560. Embora Portugal tenha sido o primeiro país europeu a consumir chá, trazido do Oriente pelos seus navegadores, foram os holandeses a importar o primeiro lote de chá da China. Apesar de a Inglaterra ser reconhecida pela sua paixão pelo chá, a bebida chegou somente ao país em 1652 e pelas mãos de uma portuguesa, a princesa Catarina de Bragança (filha do Rei D. João IV e da Rainha D. Luísa de Gusmão) que se casou com o Rei D. Carlos II.
Muitas são as histórias que envolvem esta bebida milenar, que tem inúmeras propriedades, como vimos. Inspiração não nos faltará para prepararmos a próxima chávena. E, por aí, qual o chá ou a infusão que não podem faltar na sua despensa?
Fontes: Jäger, (2011) – Preparation of Herbal Tea as Infusion or by Maceration at Room Temperature Using Mistletoe Tea; Nutricionista Ana Sofia Guerra e a “somellier de chás” Raquel Magalhães.
