Entramos na última semana do mês, na reta final da campanha “Plastic Free July”, que durante os dias de julho incentivou milhões de pessoas (em todo o mundo) a repensarem e a assumirem o compromisso de reduzirem o consumo e o desperdício do plástico.
Na data de hoje, 28 de julho, em que se celebra o Dia Mundial da Conservação da Natureza, reforça-se a importância e a urgência de iniciarmos a transformação da nossa mentalidade e atitudes. É sobre olharmos (atentamente) ao nosso redor e percebermos que somos parte do todo. É sobre sentirmos que somos um elo importante desta corrente que visa repensar a nossa atual forma de estar no mundo, reajustar e criar novos hábitos, sobretudo, os de consumir (responsavelmente), considerando e respeitando os recursos naturais e humanos.
É com muita alegria e esperança que a Maria Granel assinala esta data importante com uma convidada especial. Uma mulher inspiradora, que há 28 anos contribui para a transformação (efetiva) de vidas, para a conservação de animais ameaçados de extinção e para a restauração de ecossistemas brasileiros.
Suzana Pádua é Doutorada em Educação Ambiental e presidente do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, que desenvolve projetos de conservação socioambiental em todo o território brasileiro. Ela aceitou (carinhosamente) o nosso convite para participar deste artigo e contou-nos, ao longo de uma entrevista, quais as oportunidades de reflexão que o Dia Mundial de Conservação da Natureza constitui e como a educação é essencial no processo de transformação.
“As datas comemorativas são importantes lembretes para uma humanidade que parece estar esquecida”, inicia Suzana. Tratam-se de mecanismos que as instituições internacionais, como a Assembleia das Nações Unidas, utilizam para trazer luz às questões urgentes. É o caso do Dia Mundial da Conservação da Natureza, o Dia da Água, da Terra e outros tantos temas que deveríamos conservar e celebrar diariamente.
Somos natureza!
Suzana partilha connosco um pouco sobre o seu caminhar e o seu “despertar ecológico”. Conta-nos que desde a sua infância está em contacto com a natureza, embora não aprovasse as atividades do seu pai (que se aventurava na caça). Formou-se em Programação Visual e trabalhou durante alguns anos como designer de móveis. Inspirada pela (também) “trans-formação” do marido, que se dedicava a um mestrado em Biologia, Suzana decide reorientar a sua bússola e faz um (pequeno-grande) desvio na sua área de atuação e forma-se em Educação Ambiental. Contada assim, parece que a história da Suzana (e de todas as pessoas que por aqui já passaram) foi simples e linear, mas o “desvio” que fez na sua vida e o recálculo da sua rota foram um processo longo e desafiador do qual se orgulha muito.
A partir desta transformação (profissional e pessoal), Suzana começou a trabalhar na mesma comunidade em que o seu marido, Cláudio Pádua, desenvolvia uma pesquisa com o Mico-Leão-Preto (espécie ameaçada de extinção), no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado de São Paulo. O casal percebeu que para as ações de conservação da espécie serem efetivas, era necessário envolver os moradores do entorno da floresta. Nasciam assim os primeiros passos do IPÊ, uma organização sem fins lucrativos com uma base sólida na educação e sensibilização sobre a importância de conservar-se a natureza.
Imagem: Arquivo pessoal
“A ideia inicial era salvar animais em perigo de extinção, como o mico-leão preto, na época listado entre as dez espécies mais ameaçadas do mundo, e que ninguém estava estudando com propósito de sua proteção. Com o tempo ficou claro que conservação é um campo complexo e exige abordagens multifacetadas e interdisciplinares, que incluem, por exemplo, melhorar as condições das comunidades pobres por meio da oferta de cursos e oficinas de capacitação em temas que enriquecem o ambiente, mas trazem vantagens sociais e econômicas, como viveiros e plantios de árvores nativas, artesanatos com temas da natureza, ou plantios agroflorestais que melhorem a nutrição e cujo excedente pode ser vendido”, relembra Suzana.
Suzana conta-nos que o intuito era “esverdear” as áreas que antes se encontravam degradadas e valorizar as matas remanescentes. “Descobrimos que a conservação vai muito além da ecologia, biologia, botânica ou temas ligados diretamente à área ambiental. Todas as profissões podem ter um contributo para a proteção da natureza, pois basta ter um pouco de imaginação para refletir sobre os efeitos das práticas, sejam elas quais forem, e como podem se ajustar para não causarem impactos negativos ao meio ambiente”, diz ela.
O olhar multidisciplinar e a transversalidade nas estratégias de atuação do IPÊ foram e continuam a ser um dos alicerces que garantem a sua perpetuidade e a crescente geração de impacto socioambiental no Brasil.
Imagem: Arquivo IPÊ
“Educ-Ação”
Mais que uma palavra, um ATO que valorizamos e defendemos (com unhas e dentes) na Maria Granel. Acreditamos no poder transformador que só a educação pode proporcionar, não apenas aos miúdos como também aos graúdos.
A própria história da nossa Eunice passa pela educação. Professora de Literatura, foi após a fundação da Maria Granel que sentiu a necessidade de intensificar a formação de agentes de mudanças. “Essencialmente, percebi de forma muito mais nítida que temos de ajudar os nossos alunos – a próxima geração – a resolver os problemas que muito possivelmente herdarão como consequência dos nossos erros e da nossa irresponsabilidade perante o planeta”, explica Eunice.
Para a nossa convidada, Suzana Pádua, a educação também é a chave-mestra para garantir que a natureza (e a vida) sejam conservadas. “Educação é a base para se ampliar a visão do aprendiz com conhecimentos, vivências e valores que o guie a fazer escolhas conscientes e responsáveis. Dentre essas escolhas deve constar a sustentabilidade, pois não se pode explorar indefinidamente um planeta finito, ao tratá-lo como infinito”, comenta Suzana.
Imagem: Arquivo pessoal
Noutras palavras, o que as nossas “professoras” estão a propor é uma reflexão, dentro e fora das salas de aulas, que garanta a perceção do que é preciso manter-se e o que é essencial transformar, fomentando também a criatividade, o envolvimento e a ação, celebrando à diversidade.
Como fazer parte da transformação?
“Mas o que posso fazer para contribuir para a conservação da natureza?
Temos tentado, por meio dos diferentes canais da Maria Granel, mostrar que é possível adotarmos pequenos gestos que transformam o local onde estamos inseridos (no micro).
Pedimos por isso à nossa convidada que partilhasse alguma dica para podermos começar (hoje mesmo) os nossos passos para uma transformação mais efetiva:
“Prestemos atenção às consequências dos nossos atos, sejam eles pequenos ou grandes. É a soma que faz a diferença! Por exemplo, quando formos comprar alimentos ou roupas, que sejam priorizados artigos biológicos, sem químicos nocivos à saúde e ao meio ambiente, produções regionais, que exigem menos transporte e energia, materiais biodegradáveis, que não deixam dejetos por tempos indefinidos”, finaliza Suzana.
Que neste Dia Mundial da Conservação da Natureza (e em todos os outros do ano) possamos vivenciar a natureza de uma forma diferente – Que possamos visitar um parque e respirar fundo um ar puro, que possamos observar (calmamente) o “dançar” de uma borboleta e surpreender-nos com as cores das flores e os seus perfumes. Que possamos (assim como as crianças) voltar a encantar-nos e mergulharmos nas belezas naturais.
Quem valoriza cuida, protege, defende e conserva!
Feliz Dia Mundial da Conservação da Natureza!
Trabalho desenvolvido no Pontal do Paranapanema. Vídeo: Arquivo IPÊ (por Laurie Hedges)
Fonte: IPE; Assembleia Geral da ONU.