Há precisamente um mês promovemos um evento pioneiro em Portugal, o webinar O Futuro do Granel. Desde então, as partilhas continuam a efervescer e sentimos um grande orgulho em testemunhar o nascimento de novos projetos que estejam ancorados nos princípios disseminados durante o evento.
Para recordar esse dia, selecionamos 10 (dos muitos) aprendizagens.
“Para nós, este evento não se esgotou naquele dia, há alicerces muito relevantes que foram lançados e que são fruto da reflexão em conjunto que iniciámos”, comenta a nossa Eunice.
A nossa Eunice, João e Bruno (do Livre Para) no estúdio La Ventania
10 Aprendizagens do Webinar - O Futuro do Granel
Com a produção e apresentação dos queridos Bruno Lisboa e João Kraeski, do Livre Para, reunimos 27 oradores multidisciplinares e cerca de 100 participantes que, ao longo do dia 17 de julho, refletiram sobre o futuro do setor, o seu impacto (social, ambiental e económico) e o seu papel decisivo enquanto caminho para um consumo mais consciente. Aqui ficam alguns dos ensinamentos adquiridos e partilhados:
1- Antes de inaugurar uma loja a granel, pesquisa de mercado (e não só)
Antes de implementar o sonho de se ter uma loja a granel é fundamental:
- Conhecer exatamente o mercado;
- Estudar a dinâmica do local onde se pretende abrir a loja;
- Conhecer o seu público-alvo;
- Realizar pesquisas de benchmarking - casos e práticas semelhantes.
No nosso caso, o processo de pesquisa durou cerca de dois anos.
Loja de Alvalade. Foto: Pedro Lucas
2 - Regulação da venda a granel
Partilhamos o parecer que recebemos da DGAV - Direção Geral de Alimentação e Veterinária, em 2013, quando começámos a construir o conceito da Maria Granel. A entidade informou-nos, na época, sobrer as medidas nacionais vigentes para a comercialização de alguns alimentos:
- ARROZ - Decreto Lei n.º 62/2000, de 19/04 que define as características, fixa os métodos de análise, tipos de classes comerciais, classificação de variedades e estabelece as normas técnicas relativas à comercialização, acondicionamento e rotulagem de arroz, obrigando, através do artigo 7º, ao seu acondicionamento nas quantidades especificadas no artigo 8º. (Este DL viria a ser atualizado em 2017, pelo 157/2017)
- MASSAS e FARINHAS - Portaria n.º 254/2003, de 19/03 que define as características e estabelece as regras de rotulagem, acondicionamento, transporte, armazenagem e comercialização das farinhas destinadas a fins industriais e a usos culinários, bem como das sêmolas destinadas ao fabrico de massas alimentícias e a usos culinários e que obriga, no artigo 10º, à pré-embalagem de farinhas e sêmolas para usos culinários, e destinadas ao consumidor final.
- AÇÚCAR - DL 290/2003 que estabelece a obrigatoriedade da pré-embalagem do açúcar.
- VINAGRE - Decreto-Lei n.º 174/2007, de 8 de maio que determina a pré-embalagem do vinagre para o consumidor final.
- AZEITE - Decreto-Lei nº 76/2010, de 24 de Junho (artº 10º), relativo ao tratamento e comercialização do azeite.
. - MEL - Decreto-Lei nº 214/2003, de 18 de Setembro e Portaria nº 699/2008 de 29 de Julho, relativo a mel.
Nota: Aconselhamos a solicitar sempre um parecer por iniciativa própria.
3 - Escolha dos fornecedores
- Estabelecer critérios (no nosso caso: biológico certificado, sempre que possível, de origem nacional; Comércio Justo certificado; Adaptação ao granel e características da embalagem).
- Estudar profundamente toda a cadeia de valor e o seu impacto.
- Estabelecer e cultivar relações próximas - Manter a proximidade através do constante diálogo, lembrando que, quanto mais próxima for a relação, maior a disponibilidade para mudanças.
- Valorização das pessoas - Dar a conhecer as pessoas por trás das marcas, a sua história e o seu projeto de vida.
- Qualidade superior dos produtos.
4 - Variedade de produtos
Diversificar o portefólio e aumentar as referências em função das sugestões e preferências dos fregueses.
Loja de Campo de Ourique. Foto: Duarte Rato
5 - Gestão do stock
- Investir num bom sistema operativo;
- Realização de inventário frequentemente;
- Ter em conta as perdas resultantes da incorreta manipulação dos dispensadores;
- Vantagens da mercearia seca: validades dilatadas - menos perdas.
6 - Higiene e segurança alimentar
Implementação dos princípios HACCP - Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos. Alguns exemplos do nosso manual de boas práticas:
- Manter a temperatura baixa e estável (17 graus); evitando a incidência da luz solar;
- Higienização das caixas e dispensadores sempre que um lote termina;
- Menor risco de contaminação nos dispensadores gravitacionais;
- Registo rigoroso de abertura do produto e atualização dos lotes, validade, proveniência. Rastreabilidade total;
- Manipulação dos utensílios com segurança - luvas compostáveis e desinfeção dos utensílios.
Foto: Inês David
7 - Método self-service
Desde que sejam cumpridas todas as normas de higiene e segurança, o self-service favorece a experiência de consumo, fortalecendo também o poder de escolha, além de ser um aspeto otimizador de recursos para o lojista.
8 - Sensibilização para a cultura do BYOC - Bring Your Own Cloud
Ensinar e incentivar a comunidade a cultivar o hábito de trazer os seus próprios frascos para uma compra a granel.
É importante também comunicar aos consumidores que as balanças permitem tirar a tara dos recipientes antes que sejam preenchidos por alimentos.
Compras do João e do Bruno (Livre Para)
9 - Cultivar o senso de comunidade
Muito mais do que manter uma loja, desenvolver ações com e pela comunidade.
10 - Medir o impacto
Mais do que desenvolver um negócio de impacto socioambiental, é necessário que estes sejam medidos e comunicados.
Alguns exemplos de boas práticas:
- Número de contentores reutilizados;
- Transporte e expedição em mobilidade suave e redução de emissões GEE - Gases do Efeito Estufa;
- Impacto dos serviços prestados: testemunhos e estatísticas.
Esses foram apenas algumas das muitas aprendizagens do webinar - O Futuro do Granel- que reforçou e enalteceu o poder da comunidade, da colaboração, co-criação e cooperação.
O nosso muito obrigada a todos os que se juntaram ao webinar e tornaram o evento possível e tão especial. Em especial, aos nossos oradores: Joana Campos Silva (Fashion Makers), Cátia Curica (Unii Organic & Organii), Raquel & Marcos (Cindinha Bulkstore), Sofia Oliveira & Fabio Gomes (Mercearia com Vida), Erika Purificação (Armazém Integral), Rui Catalão (Kitchen Dates), Carla Sanchos Santos (LeguCon UCP), Saúl Corgo Silva (Greendet), Luisa Ferreira (Quinta do Arneiro), Leonor Burnay Barros, Filipa Gouveia (ECOnnect), Inês Cancela, Sara Diniz, Ariana Macieira (SimBIOse UCP), Rita Ramalho (C-Greener), Cláudia Pereira Correira, Gabriela Maciel, Ana Sofia Guerra - Nutricionista, Nuno Brito Jorge (Go Parity), Luís Amado (B Corp), Ana Salcedo (Zero Waste Lab), Ana Milhazes (Lixo Zero Portugal), Joana Guerra Tadeu, Susana Fonseca (ZERO), Lívia Humaire (Transicoes Ecologicas), Filipa Dias e Lúcia Pereira
O nosso agradecimento também aos nossos parceiros que apoiaram e amplificaram a nossa ação: La Ventana ; Mundivagante; Zero Waste Lab; Zero Waste Youth Portugal; Instituto Lixo Zero Portugal; Instituto Lixo Zero Brasil; C.Greener; Econnect; Associacao ZERO Portugal; Junta da Freguesia Penha de França; Veganesh.
“Foi um dia bonito de comunidade, de esperança, que culminou com uma certeza: juntos somos mais fortes e vamos mais longe. Que este webinar tenha sido o início de uma caminhada em conjunto que ajude a afirmar e a fortalecer o setor do granel”, celebra a nossa Eunice.
A revolução já começou!