A urgência da redução da pegada ecológica mundial e a mitigação dos impactos das alterações climáticas exigem novas formas de consumo, nomeadamente, a transição de uma dieta predominantemente à base de alimentos de origem animal para uma que priorize a sua origem vegetal. Nesse sentido, as leguminosas desempenham um papel fundamental como alternativas ambientalmente responsáveis, economicamente viáveis e nutricionalmente ricas.

 

LeguCon leguminosas2Pixabay

 

Em Portugal, há uma iniciativa que arrancou em 2021 que está a contribuir para o crescimento e fortalecimento da produção de leguminosas de forma participativa e interativa: o consórcio LeguCon, promovido pela Universidade Católica Portuguesa com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

 

LeguCon - Consórcio para a produção de leguminosas em Portugal 

O consórcio surge num momento em que os países, inclusive Portugal, reavaliam o grau de  dependência na aquisição de bens de consumo e o impacto que estes causam na natureza. Visto que a conservação ambiental depende diretamente da forma como o solo é usado e como se processam as etapas de uma cadeia de valor, a produção da proteína vegetal assume um papel significativo na mitigação dos impactos negativos e no objetivo da
neutralidade climática.

A proposta é estabelecer uma plataforma colaborativa entre os diferentes agentes da cadeia de valor das leguminosas visando estimular o crescimento da produção dessas culturas em Portugal. Assim, o projeto é direcionado aos produtores da região norte (Porto, Braga e Viana do Castelo), localidade onde os níveis de produção das leguminosas são ainda muito baixos. “Já há muitos anos que trabalhamos com leguminosas no laboratório Biotecnologia Vegetal para a Sustentabilidade. Estudamos o seu alto valor para o ambiente e para a alimentação humana, que contrasta com a sua baixa produção a nível nacional. Como somos movidos para fazer ciência para a comunidade e com interesse prático para o cidadão, queremos ajudar com todos os meios necessários para tornar a adesão e as práticas agrícolas mais sustentáveis”, comenta Carla Santos, investigadora e uma das responsáveis pelo desenvolvimento do projeto LeguCon.

 

Objetivos do consórcio 

Apoiar e contribuir com os que estejam interessados em implementar leguminosas nas suas áreas agrícolas ou terrenos. E para isso, o projeto aposta em formações práticas, sessões de esclarecimentos técnicos e partilha das experiências. Em paralelo às ações dedicadas aos agricultores, o LeguCon pretende compreender as principais barreiras que afastam as leguminosas dos consumidores, além de favorecer a “fertilidade” do ecossistema, para que as leguminosas assumam um papel relevante no contexto da agricultura nacional.


“Em conjunto com os agricultores participantes, pretendemos identificar os principais obstáculos e incentivos para o cultivo de leguminosas na região norte e sensibilizar a indústria para a necessidade de desenvolvimento tecnológico para aumentar a competitividade dessas culturas no nosso país”, explica a cientista e investigadora Rosa Moreira.


LeguCon leguminosas5Pixabay

 

Como funciona? 

Seis agricultores da região norte foram selecionados, dos 36 inscritos, para receberem apoio, em termos práticos, sobre as vantagens de introduzir leguminosas numa exploração agrícola. Entre os critérios de seleção para o programa, os participantes disponibilizaram pelo menos 1 hectare para o experimento, numa área onde nunca houve o cultivo de leguminosas e se comprometeram a colaborar com o estudo e a demonstração dos resultados. Em contrapartida, o projeto oferece consultoria para a instalação e desenvolvimento das culturas, fornecimento das sementes e um apoio financeiro.

 

O projeto expande-se para além das áreas agrícolas por meio de publicações de artigos, eventos e webinares onde agentes de múltiplas áreas se reúnem e enriquecem as discussões em torno da temática. Inclusive, a nossa Eunice teve a oportunidade de participar do II Webinar apresentando o quadro regulatório do granel em Portugal.

É possível rever os dois primeiros webinares e acompanhar a agenda dos próximos eventos aqui




Porquê leguminosas? 

Face ao contexto e das medidas da Política Agrícola Co­mum - PAC para os próximos anos, estabelecidas no final de Junho de 2021, que incluem a promoção de "eco regimes" que promovem a adoção de práticas ambientalmente responsáveis, as leguminosas são culturas estratégicas, devido às suas características biológicas:

  • Melhoram a qualidade dos solos;
  • O seu cultivo envolve um gasto menor de água, de combustíveis fósseis e de produtos agroquímicos
  • São fertilizantes naturais do solo, pela sua capacidade de fixar azoto
  • Contribuem no combate a pragas;
  • Promovem a diversidade microbiana no solo.


“Será, por isto, o momento ideal para sensibilizar o setor agrícola para os benefícios destas culturas e de que forma estas lhes permitem responder à nova re­forma da PAC”, LeguCon.

Para além das vantagens a nível ambiental, a nível da saúde, verifica-se que o consumo de leguminosas tem inúmeros benefícios, concorrendo para a redução da incidência de várias doenças crónicas como as cardiovasculares e cancro.

 

 

LeguCon leguminosas6Calouste Gulbenkian

 

Cenário das leguminosas - Europa e em Portugal 

Na Europa, apenas 1,5% dos solos aráveis estão a ser usados no cultivo de leguminosas (Relatório Plantar o Futuro). Em Portugal, os dados de produção atuais são muito baixos, cerca de 2000 toneladas/ano, que correspondem a 16,9% das necessidades de consu­mo interno. Desse modo, Portugal (assim como o resto da Europa) depende da importação de leguminosas de países como: a Argentina (43%), Estados Unidos da América (12%), Espanha (12%), Etió­pia (12%), Canadá (11%) e México (10%) para atender os níveis internos de con­sumo. (Fonte: LeguCon).

Se, por um lado, esses dados revelam uma situação alarmante, por outro, oferecem-nos oportunidades para alavancar a produção nacional através de mecanismos, tecnologias, incentivos que fortaleçam todos os elos da cadeia e propiciem a “plantação do futuro”.

Orgulhamo-nos por acompanhar, ao longo dos sete anos de existência da Maria Granel, o aumento da produção nacional de vários alimentos, contribuindo à nossa pequena escala para a sua promoção, disponibilizando-os nas nossas lojas. No caso das leguminosas, atualmente, contamos com 3 espécies nacionais que compõem o nosso portfólio de ofertas: feijão vermelho, feijão frade e grão de bico. Orgulhamo-nos igualmente dos outros produtos nacionais que enchem os nossos dispensadores e estantes (e os nossos corações) - 72% dos nossos fornecedores e produtores são nacionais.

 

LeguCon leguminosas3

João Valente, produtor das nossas leguminosas. Foto: Pedro Sadio 




Esperamos, num futuro próximo, ver as sementes que estão a ser cultivadas coletivamente com dedicação e inteligência germinarem enriquecendo não apenas a nossa dieta mas também criando e fortalecendo uma economia de baixo impacto ambiental. 

 

Fontes: LeguCon; Instituto Nacional de Estatísticas (INE); Relatório Plantar a Alimentação do Futuro.