Ana Pêgo

Neste episódio, lançado no Dia Mundial do Ambiente, estivemos à conversa com Ana Pêgo, uma das nossas maiores inspirações. A Ana é bióloga marinha, investigadora na área dos oceanos, «artivista» e autora do livro Plasticus Maritimus: Uma Espécie Invasora (editado em 2018). Criadora do projeto educativo com o mesmo nome, desde 2012, dedica o seu trabalho à sensibilização e educação ambiental para a conservação dos oceanos, conciliando ciência e arte. É também "beachcomber".

Para nós, a Ana é uma espécie de consciência coletiva, uma voz ativa e (e ativista) que nunca desiste de transformar o que a rodeia e de tornar, com as suas próprias mãos, o mundo num lugar melhor. Não espera por terceiros para agir, mas move tudo e todos que encontra à frente. É o verbo agir em pessoa.

Nunca esqueceremos a visita à sua exposição. Recebeu-nos e guiou-nos pelas várias instalações artísticas feitas com lixo que recolhera na praia. Primeiro, foi uma excitação de estímulos, todos estavam siderados com as cores e as texturas, com as dimensões e os formatos, mas, depois, no segundo momento, a Ana pediu que nos sentássemos e contou-nos a sua história; como tinha crescido ali perto da praia, o que fazia como bióloga marinha e como começara a reparar que havia cada vez mais lixo na costa.

Lentamente, todos na sala se foram apercebendo de que aqueles objetos transformados em arte eram, afinal, peças de plástico que tinham ido parar ao mar e que ele regurgitou e devolveu ao areal – o nosso lixo, aquilo que supostamente tínhamos «deitado fora» e que, afinal, continuava ali.

De tudo o que vimos e de tudo o que a Ana partilhou connosco, houve duas «descobertas» que trago sempre comigo, na minha mente e no meu coração. Houve muito mais, mas essas duas constatações selaram o meu compromisso com as gerações vindouras. Primeiro, foi perceber que do espólio da Ana faziam parte brinquedos das décadas de 1960 e 1970 (e até mais antigos!) — ou o que restava deles: braços, pernas, cabeças. Segundo, foi ver artefactos de pesca usados no Canadá e identificados como tal.

O silêncio gritou bem alto na sala; esses dois momentos mostram, de forma inequívoca, que o material em causa — o plástico — não só atravessa o tempo (neste caso, décadas), como também o espaço (neste caso, milhares de quilómetros). Mais, mostram que o lixo dos outros é nosso, assim como o nosso se transforma em lixo dos outros. A responsabilidade é (tem de ser!) de todos.

Mas a verdadeira pergunta que a Ana, através daquela exposição e da sua arte, levantava é como deixámos que um material extraordinário (longevidade, leveza, impermeabilidade, resistência, segurança, preservação e higiene, acessibilidade, baixo custo de produção, maleabilidade e flexibilidade, democratização no acesso...) fosse tão facilmente descartado e se transformasse em lixo, dando origem a um problema de proporções globais?

Isto e muito mais nesta conversa sobre o trabalho - missão - da Ana.

Neste dia especial, queremos que conheçam mais sobre esta (super) guardiã do planeta. Obrigada, querida Ana!

A voz ao comando, como sempre, é da Paula Cordeiro, numa produção Streaming Ideas.

Esperamos que gostem!

Até já!

Créditos fotografia: Revista Visão