Neste episódio, estivemos à conversa com a Raquel Gaspar, bióloga marinha, co-fundadora da Ocean Alive org. e responsável pelo projeto "Guardiãs do Mar". A sua paixão pelo mar nasceu graças aos episódios de Jacques Costeau, a que assistia religiosamente todos os domingos. Não admira por isso que o seu primeiro sonho tenha sido viver no mar. E conseguiu realizá-lo, na década de 80, ainda como estudante, indo trabalhar para os Açores com a IFAW (International Fund for Animal Welfare).
Viveu a bordo de um veleiro, recolheu informação sobre avistamentos de golfinhos e baleias, procedeu aos registos acústicos de comunicação e ecolocalizaão dos cachalotes. Mais tarde, em colaboração com a Universidade dos Açores, Departamento de Oceanografia e Pescas, e com o Governo Regional, ajudou a formar a população local para a criação de empresas de observação de cetáceos. "Foi esse mar que vivi, que respirei e que está dentro de mim”, refere em relação a essa experiência poderosa que viveu no arquipélago. Era o primeiro contacto de Raquel com a luta pela preservação da biodiversidade. Entretanto, voltou para o Estuário do Sado, fez o doutoramento, desenvolveu um programa de monitorização para perceber o que estava a acontecer aos golfinhos daquela região.
Trabalhou com dinâmica populacional e apresentou um modelo para tirar a população do declínio, para proteger o seu habitat, que são as pradarias marinhas, dando-lhes melhores condições de sobrevivência. Raquel explica-nos o que são as pradarias e a sua importância decisiva para a sobrevivência das espécies, para a proteção costeira e no combate à crise climática. Foi precisamente por isso que, em 2015, juntamente com a bióloga marinha Sílvia Tavares e a gestora Sofia Jorge, criou a Ocean Alive, uma cooperativa que tem como objetivo proteger as pradarias marinhas do Estuário do Sado, transformando o conhecimento das pessoas, envolvendo a comunidade piscatória e a comunidade do estuário na transformação de comportamentos, dando-lhes oportunidades, seja através das campanhas de limpeza, seja através de programas educativos.
Foi a primeira portuguesa a receber a distinção National Geographic Explorer. Foi também laureada com o Prémio Terre de Femmes 2017. O seu trabalho extraordinário e mérito têm sido reconhecidos e aclamados nacional e internacionalmente, recebendo inúmeros fundos, bolsas e prémios. Foi precisamente graças à cerimónia Terre de Femmes que nos conhecemos em 2019 e que os nossos caminhos se cruzaram. E nunca mais deixei de acompanhar a sua missão e o seu trabalho. A Raquel é para mim a personificação da "Menina do Mar" de Sophia, história que ela tantas vezes contou no Oceanário e que foi, para tantas pessoas, a porta de entrada no mundo da literacia dos oceanos. É também a primeira das "Guardiãs do Mar" que ela própria fundou. Jamais esquecerei a conversa que tivemos os três, eu, a Raquel e o meu marido, no dia em que nos conhecemos.
Foi exatamente sobre aquilo com que a Raquel termina esta conversa com a Paula, depois de ter falado das ameaças à biodiversidade e do que podemos fazer como comunidade para resolver os problemas que a natureza e o planeta hoje enfrentam: amar é a maior fonte de inspiração e de proteção, precisamos de viver apaixonados pela natureza. "A melhor forma de protegermos o mundo é amarmos a natureza".
Obrigada, querida Raquel, pelo teu exemplo, pela tua força e pelo amor que dedicas à proteção do mar e do nosso mundo. És uma inspiração! A voz ao comando, como sempre, é da Paula Cordeiro, numa produção Streaming Ideas.
Esperamos que gostem!
Até já!
Créditos fotografia: Gustavo Figueiredo