É com muita alegria que inauguramos uma nova rubrica - ComUnidade, em que pretendemos dar voz e vez às iniciativas que estão a transformar vidas e o mundo e que fazemos questão de apoiar. Hoje damos as boas-vindas à Ocean Alive, a primeira cooperativa em Portugal dedicada à proteção do oceano.
De norte a sul do nosso país, inúmeros projetos estão a gerar impacto positivo, seja social, seja ambiental, do desenvolvimento comunitário à fomentação de relações mais justas no trabalho, da pesquisa tecnológica à proteção das espécies e ecossistemas.. Por acreditarmos na força da ComUnidade, mensalmente, daremos a conhecer um projeto de impacto!
ComUnidade: Projeto Ocean Alive
A bióloga marinha Raquel Gaspar, co-fundadora da Ocean Alive, conta-nos como surgiu o projeto e quais são os desafios que em comunidade têm sido superados.
Raquel Gaspar foi uma das nossas primeiras queridas convidadas no Podcast Maria Granel, ouve aqui!
O problema
Desde muito cedo, Raquel alimentou a sua paixão pelo mar: inicialmente, inspirada pelos episódios de Jacques Costeau e, depois ,por ter tido a oportunidade de viver a bordo de um veleiro, onde recolheu informações sobre avistamentos de golfinhos e baleias.
Toda a sua trajetória, somada à paixão pelo mar, fez com que Raquel percebesse um desequilíbrio numa região estratégica para a conservação de algumas espécies marinhas. A diminuição acentuada das pradarias marinhas do estuário do Sado, que integra os concelhos de Setúbal, Alcácer do Sal, Grândola e Palmela, levou à escassez da vida marinha, contribuindo para o desemprego e desvalorização da comunidade piscatória, mais precisamente, das mulheres pescadoras, e para o declínio da população residente de golfinhos.
Respostas
Foi precisamente devido ao desequilíbrio detetado que, em 2015, Raquel, juntamente com a bióloga marinha Sílvia Tavares e a gestora Sofia Jorge, fundaram a Ocean Alive, uma cooperativa que tem como objetivo proteger as pradarias marinhas do Estuário do Sado, por meio da sensibilização e efetiva participação das mulheres da comunidade piscatória, as Guardiãs do Mar.
“O meu sonho é ver um oceano saudável e mantido pelas pessoas. Eu não conseguiria fazer isso sozinha, para o fazer era preciso chamar outras mulheres do mar. O objetivo das Guardiãs do Mar é proteger as pradarias marinhas envolvendo as mulheres pescadoras”, explica Raquel.
Imagens: Ocean Alive
O projeto Guardiãs do Mar visa solucionar três problemas das pradarias marinhas oriundos das práticas piscatórias:
1 - O lixo da mariscagem - um exemplo são as embalagens plásticas de sal utilizadas para apanhar o lingueirão;
2 - As âncoras que estão sob as pradarias que danificam a vegetação;
3 - A pesca destrutiva que é responsável por fragmentar o habitat.
“Envolvemos as pescadoras através de um Programa de Educação Marinha que as capacita a serem guias marinhas. Esse programa é dirigido a pescadoras que não têm emprego. Nele, valorizamos tudo aquilo que elas já sabem sobre o mar!”, explica Raquel.
Outra iniciativa voltada às Guardiãs do Mar é o Programa de Sensibilização; nele as pescadoras são capacitadas para serem monitoras das pradarias, colaborando no mapeamento e planeamento das áreas a serem protegidas.
Uma das capacitações das pescadoras para o mapeamento das pradarias marinhas
Afinal, o que são pradarias e qual a sua importância?
As pradarias marinhas são um habitat constituído por plantas aquáticas que formam um complexo sistema de rizomas em zonas costeiras, lagoas, rias e estuários.
Geralmente ocupam águas pouco profundas e oferecem-nos diversos serviços ecossistémicos:
- Servem de berçário para várias espécies de peixes, crustáceos e bivalves;
- Sequestram e armazenam grandes quantidades de carbono;
- Previnem a erosão costeira;
- Atuam como filtros naturais da água, retendo os sedimentos;
- Favorecem as práticas turísticas como avistamento de aves, mergulho e pesca.
Em Portugal, as pradarias marinhas estão presentes na Ria de Aveiro, estuário do Mondego, Lagoa de Óbidos, estuários do Tejo, do Sado e do Mira, Ria de Alvor, Arade, Ria Formosa e estuário do Guadiana, baías abrigadas na costa da Arrábida e Algarve, e Madeira.
A Ria Formosa é onde está registada a maior área de cobertura. Uma estimativa aponta para uma área de 1690 hectares de pradarias (1), mas o país carece de uma avaliação atualizada.
1. Cunha et al., 2011. Seagrasses in Portugal: A most endangered marine habitat. Aquatic Botany
Imagem: Ocean Alive - ©Nuno Farinha / Fonte: Cunha et al 2011
Inspirad@s para conhecer mais sobre esse importante ecossistema e o projeto que vem contribuindo para a sua conservação?