Já que estamos em plena Fashion Revolution Week - Movimento global que mobiliza esforços para incentivar uma moda socialmente justa e ambientalmente responsável, ninguém melhor para compor a nossa rubrica mensal - ComUnidade -do que a Antónia Ribeiro Gomes, fundadora da Branco Chá, marca portuguesa que transforma excedentes têxteis em arte.
Imagem: Arquivo pessoal
ComUnidade: Branco Chá
Muito antes de a Branco Chá se tornar uma referência nacional no combate ao desperdício têxtil, era um estilo de vida da sua própria fundadora, Antónia Gomes. Na história da nossa querida parceira de revolução e fornecedora dos nossos charmosos Taleigos, Senhoritas, Sacos de tapeçaria e guardanapos, está uma menina curiosa (e talentosa) que cresceu a conceber, juntamente com a sua mãe, as suas próprias roupas.
“Eu passava tardes a experimentar lençóis, idealizando roupas para mim e para as minhas bonecas. Cresci tendo sempre uma grande admiração pelas costureiras, porque, no fundo, elas eram realizadoras dos meus sonhos”, conta Antónia.
O sonho da menina que aproveitava os retalhos cresceu junto com ela. Na adolescência ela continuou a personalizar as suas próprias peças a partir dos tecidos que recebia das costureiras e sapateiros vizinhos. Até que, em 2016, o sonho da Antónia se tornou realidade.
“A minha família sempre esteve ligada ao artesanato nacional, crescemos com esta sensibilidade para apreciar o trabalho manual. Sempre sonhei em pegar numa peça portuguesa e transformá-la. Incentivada pelo meu marido, criei um saco a partir de excedentes têxteis de tapeçaria”, relembra ela.
Antónia e a sua arte convidam-nos a acreditar, diariamente, que a moda pode (e deve) ser um instrumento de transformação socioambiental, pelo qual podemos reduzir o desperdício têxtil, reaproveitar o que é nosso e, sobretudo, valorizar e celebrar a cultura e os saberes imateriais do artesanato.
Imagem: Arquivo pessoal
Dos retalhos às novas peças
É dos armazéns da Póvoa de Varzim que provêm todas as matérias-primas utilizadas para a criação das peças Branco Chá, as quais mantêm os costumes, evitam o desperdício têxtil e valorizam o trabalho manual das artesãs e costureiras. Os tecidos, alfinetes, etiquetas, botões e fechos encontrados são alinhavados, um a um, e ganham uma segunda vida. “A Branco Chá trabalha com duas costureiras e duas artesãs, somos 4 mulheres e adoramos o que fazemos!”.
O resultado dessa magia é a transformação de “resíduos” têxteis em peças charmosas, modernas, únicas.
Mais do que sacos únicos e coloridos, eles resgatam e honram o saber-fazer de toda uma família. “Dei por mim a pensar que estas peças representam tudo aquilo em que eu acredito. Elas são feitas localmente com recursos que temos aqui, com as pessoas de cá e homenageiam a nossa tradição. Há melhor forma de falarmos sobre a nossa ancestralidade do que a mantermos?!”, reflete Antónia.
Tradição que nos orgulhamos de vestir
Por valorizarmos os princípios da Branco Chá e para contribuirmos para o impacto gerado a partir do reaproveitamento dos excedentes têxteis, temos a marca nas nossas lojas desde 2019 e agora trazemo-la, literalmente, ainda mais perto do coração.
"A Branco Chá é para mim um dos melhores símbolos de resgate criativo do passado comprometido com o futuro. É uma marca de afetos e profundamente humanizada: há um rosto e uma alma, da Antónia; há uma história de vida que se faz de histórias de outras vidas, de outros rostos e, sobretudo, de outras mãos sábias - as das suas costureiras.
É uma marca de memória(s), que ecoa um passado muito nosso, feito de taleigos e de vendedores, de fregueses e retrosarias, de teares e de tradição. É uma marca de ressignificação e que, através dos seus produtos úteis para o dia a dia, de malas a guardanapos e a sacos, e agora estes aventais, nos ajuda e ensina a olhar para o desperdício, para os excedentes, com um novo olhar: o da (re)valorização. É como isso é poderoso. Da linha, à etiqueta, dos tecidos até aos embrulhos, tudo é reaproveitado, retirado do limbo inevitável e silencioso dos aterros. É uma marca de uma mulher, que apoia outras mulheres e lhes dá trabalho, lhes reconhece o seu dom e talento. É uma marca de abundância e pela abundância. Trazer ao peito a insígnia da nossa marca bordada em tecido resgatado com um design pensado de forma exclusiva e personalizada para a nossa loja, para as nossas funções do dia a dia, é um privilégio. Este avental é um símbolo da colaboração, admiração e carinho que une as nossas marcas e os nossos projetos", partilha (orgulhosa) a nossa Eunice.
Antónia conta-nos que o processo de confeção dos aventais - que se iniciou na busca pelo melhor tecido, desafiou-a a sair da sua zona de conforto, fazendo com que tivesse que apurar, ainda mais, o seu" olfato". "Fiquei imensamente feliz em ser desafiada pela Eunice! Normalmente, no meu processo de criação, vou aos armazéns aqui da Póvoa de Varzim, com o coração aberto, sem uma escolha definida de cores e materiais. Até tenho uma ideia e manifesto a intenção ao Universo, mas não me prendo. Com os aventais da Maria Granel, o processo foi ao contrário. Tínhamos de encontrar um tecido resistente e de cor escura, o que acabou por afunilar muito as opções. Soube que o Sr. Manuel receberia sarja, mas com a demora e o meu espírito de arqueóloga (risos) fui "escavar" o armazém. E, para a nossa surpresa, minha e do Sr Manuel, encontrei um rolo de sarja (castanho escuro) num canto do armazém. Que alegria que foi!", partilha, Antónia.
É com muita alegria e orgulho que partilhamos os nossos novos aventais utilizados nas nossas lojas. São lindos e carregam, em cada fio, tradição, ancestralidade e futuro.
Da perseverança da nossa querida Antónia nasceram 13 aventais feitos 100% excedentes têxteis, evitando que cerca de 15 metros de tecidos viessem a ser descartados.
E desse lado, alguma sugestão de reaproveitamento de tecidos?
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